A designer gráfica Ana Gomes, de 30 anos, convive com o HIV há oito. Por conta disso, é considerada em risco aumentado para diversas doenças infecciosas.¹
Depois de um ano vivendo com a doença, enquanto ela passava por um momento de estresse no trabalho e por problemas emocionais, sentiu um incômodo no olho esquerdo.
— Primeiro foi um incômodo e uma leve dor. Depois, começaram a surgir pequenas bolhas ao redor do olho e na testa. Passei a sentir dor de cabeça. Como eu não estava fazendo o tratamento para HIV, minha imunidade estava muito baixa — conta ela.
Ana procurou um posto de saúde, onde foi diagnosticada com herpes zoster. Iniciou o tratamento com um remédio antiviral e uma pomada nas pequenas bolhas. Porém, desenvolveu uma reação alérgica à medicação.
— Sentia coceiras e apareceram várias manchas na minha pele. Meu olho foi ficando inchado, com muito mais bolhas, e eu sentia muita dor. Eu quase perdi a visão, estava enxergando tudo embaçado. Mesmo assim, não interrompi o tratamento. Os médicos me prescreveram outra pomada que foi desembaçando meu olho — lembra ela.
Pacientes imunocomprometidos são os mais afetados pelo herpes zoster, junto com pessoas acima de 50 anos, explica Jessé Alves, infectologista e gerente médico da GSK.
— Pessoas em tratamento que tomam medicamentos que afetam o sistema imunológico ou acima de uma certa idade apresentam mais risco. Essa questão do envelhecimento fica mais nítida acima dos 50 anos, mas não quer dizer que pessoas mais jovens — mesmo saudáveis — não possam ter o herpes zoster.
O especialista explica que a doença é uma segunda manifestação do vírus varicela zoster, o mesmo que causa a catapora. O vírus pode ficar latente no organismo de quem já teve a doença por muitas décadas, até que se manifesta novamente.
De acordo com Jessé, manifestações do vírus no olho, como aconteceu com Ana, podem ter graves complicações.
— Em 25% dos casos, o herpes zoster se manifesta em nervos da face. Quando há o acometimento desse ramo de nervos, o paciente pode ter uma complicação aguda, que envolve córnea e retina. Demanda muito cuidado, porque você pode ter o comprometimento da visão por causa da doença — alerta ele.
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A designer Ana Gomes vive com HIV e teve herpes zoster com queda da imunidade — Foto: Acervo pessoal
Dor persistente
A geriatra Maisa Kairalla explica que o tratamento para a doença é a medicação antiviral, que, usada em casos de doença aguda e, preferencialmente, em estágio precoce, tem como objetivo diminuir a intensidade da doença. No entanto, a sensação, segundo ela, pode acompanhar o paciente para o resto da vida:
Segundo Maisa, o herpes zoster pode desencadear uma série de intercorrências graves nos pacientes:
— A principal complicação é a neuralgia pós-herpética, que é a persistência da dor no nervo acometido pela doença. Mas é possível desencadear encefalite, doença sistêmica e até AVC e infarto.
A geriatra acredita que o paciente que desenvolve herpes zoster joga luz sobre determinadas questões, como estresse, ausência do sono, depressão, fragilidade do corpo. Além disso, ela destaca que é preciso estar atento ao que pode estar por trás da doença.
Referências
1- Centers For Disease Control And Prevention. Prevention Of Herpes Zoster: Recommendations Of The Advisory Committee On Immunization Practices (Acip). Mmwr, V. 57, Rr-5, P. 1-30, 2008.
Np-Br-Hzu-Jrna-230004 - Junho/2023