Jacob Pick Bittencourt, o Jacob do Bandolim, é o compositor com maior presença no repertório de Hamilton de Holanda, desde que ele iniciou a carreira — ainda criança — em 1981. À época, ao lado do irmão e violonista Fernando César, com quem formava o duo Dois de Ouro, fez o show de estreia no Clube do Choro, e uma das músicas que tocaram foi Doce do coco, do saudoso Chorão.
Neste ano, quando se comemora o centenário de Jacob, o bandolinista que, no começo da infância veio com a família morar em Brasília, quis homenageá-lo. Inicialmente, pensou em gravar um álbum, mas, depois, em conversa com João Augusto, diretor do selo Deck Disck, lhe foi sugerido preparar uma caixa com quatro CDs, para exaltar o preciosismo da obra do mestre.
Hamilton vê o ídolo como o responsável pela existência de uma identidade brasileira no bandolim. Em parceria com seu empresário e sócio Marcos Portinari, se pôs a produzir a série, em que propõe uma múltipla recriação do legado jacobiano, tirando-a da zona de conforto original, colocando-a com diferentes linguagens, timbres e universo.
De volta à cidade, Hamilton retoma o projeto Bandolim Solidário, interrompido em 2017. Amanhã, às 20h, ele comanda um grande espetáculo, no Teatro dos Bancários, com a participação de familiares e de convidados especiais — músicos brasilienses de diferentes gerações. Todos empenhados em dar sua parcela de contribuição à Abrace, instituição que oferece assistência social para crianças e adolescentes com câncer e doenças hematológicas.
O concerto beneficente chega à 16ª edição e desta vez conta com a parceria do Projeto Cultura e Cidadania, iniciativa do Instituto Alvorada Brasil, e do Sindicato dos Bancários. O objetivo é reforçar os pilares da cidadania e imprimir um novo rumo na política de ocupação do Teatro dos Bancários, importante equipamento cultural da Capital Federal.
Além da presença do pai, José Américo (violão), do irmão Fernando César (violão 7 cordas), do sobrinho Bento Tibúrcio Mendes (baixo) e dos filhos Gabriel e Rafaela Holanda, Hamilton vai contar, no Bandolim Solidário, com a participação de Pedro Martins (guitarra), Pedro Vasconcellos (cavaquinho), Victor Angeleas (bandolim), Márcio Marinho (cavaquinho), Valerinho Xavier (percussão), Leander Motta (bateria), Tiago Tunes (bandolim), Matheus Donato (bandolim), Larissa Umaytá (percussão) e Genevieve Artadi (voz).
Entrevista / Hamilton de Holanda
Qual foi o seu critério para a escolha das composições de
Jacob do Bandolim incluídas no repertório dos quatro discos da caixa?
Toco Jacob do Bandolim desde o início da minha carreira. A primeira composição dele que tirei, ainda na escaleta, o primeiro instrumento que toquei, foi Doce do coco. Depois, ao longo de minha trajetória, fui incorporando várias outras ao meu repertório. O certo é que hoje tem algo em torno de 50 músicas dele que costumo tocar. Muitas delas estão registradas nos discos das caixas. Mas há também a inédita Jardim; Naquela mesa, que Sérgio Bitencourt fez inspirado no pai, logo depois da morte dele; e Jacob Black e Serenata Jacarepaguá, que compus para homenageá-lo.
Em cada um dos CDs você usa um tipo de linguagem para
interpretar os choros de Jacob. Eles permitem essa releitura?
Quis fazer um painel da obra de Jacob e busquei tirar suas composições da zona de conforto original, o gueto do choro, colocando-a em diálogo com diferentes linguagens, timbres e universos. Quis criar uma estética diferente para cada disco, ao criar arranjos, instrumentações e maneiras de tocar diversas. Mas tudo baseado nas melodias de Jacob.
Em Jacob 10ZZ prevalece o improviso próprio da levada jazzística.
Há semelhança entre a linguagem do choro e a do jazz?
O jazz e o choro surgiram na mesma época e são primos, considerados irmãos. Em ambos os gêneros, o improviso é elemento comum. Nesse disco, que gravei com Guto Wirti e Thiago da Serrinha, músicos do meu trio, incluí Assanhado, Remeleixo, Naquela mesa (Sérgo Bitencourt) e Serenata Jacarepeaguá, que fiz em homenagem ao mestre.
O balanço da bossa nova permeia o Jacob Bossa.
O compositor tinha alguma relação com esse estilo musical?
O Jacob, poucos sabem, pensou em gravar um disco com clássicos da bossa nova, da obra de Tom e Vinicius, um pouco antes de morrer. Tem uma gravação dele no Museu da Imagem e do Som, em que ele falava sobre essa possibilidade. Vibrações, Carícia, Receita de samba, Diabinho maluco são algumas das faixas do Jacob Bossa, em que tenho a companhia de Guto Wirti e do pianista Marcelo Caldi. Ah!, sim, eu canto Jamais, gravada por Elizeth Cardoso, no LP que Jacob gravou no Teatro João Caetano com o Época de Ouro e o Zimbo Trio.
O que o levou a promover a fusão do choro
com ritmos afro-brasileiros no Jacob Black?
Quis mostrar essa possibilidade oferecida com certas composições do Jacob, como, por exemplo, A ginga do Mané, Bola Preta, Sereno e Primas e bordões. Incluí Jacob Black, de minha autoria. Rafael dos Anjos, grande violonista brasiliense, e os percussionistas Thiago da Serrinha e Luiz Augusto estão comigo nesse disco.
Por que Jacob Baby?
Quis trazer para esse projeto a maneira como eu tocava choros do Jacob na infância, quando iniciei a carreira. Usei nas gravações um bandolim do Jacob que pertencia ao acervo da Casa do Choro, no Rio de Janeiro, que me foi presenteado. Reuni no repertório, entre outras, Benzinho, Cabuloso, Doc de do coco, Noites cariocas e Santa Morena.
No roteiro do Bandolim solidário há músicas
de Hamilton de Holanda toca Jacob do Bandolim?
Possivelmente. Mas vão ter músicas minhas, como Miss Teba, que compus para minha mãe; e de músicos que vão participar do show, como Pedrinho Vasconcellos e Victor Angeleas. No final, meu pai, César, Bento, Gabriel e Rafaela e eu vamos fazer Minha festa, de Nelson Cavaquinho, que viralizou na internet, numa gravação caseira nossa.
Hamilton e Holanda – Bandolim Solidário
Show com o músico e convidados amanhã, às 20h, no Teatro dos Bancários (Entrequadra 314/315 Sul). Ingressos: R$ 80 e R$ 40 (meia-entrada estendida para quem doar 1 kg de alimento). Informações: 99141-4252. Classificação indicativa livre.
Hamilton de Holanda toca Jacob do Bandolim
Caixa com quatro discos. Lançamento da Deck Disck. Preço sugerido: R$ 139,90