Vera Magalhães, O Estado de S.Paulo
22 Agosto 2018 | 03h00
A primeira referência que me veio à mente diante do vídeo da campanha do PT que faz referência à existência de “milhões de Lulas” no Brasil foi o filme Quero ser John Malkovich, de 1999, brilhante obra da dupla Charlie Kaufman e Spike Jonze.
No filme, um desempregado consegue um trabalho no andar 7 e 1/2 de uma firma, onde encontra uma portinha que permite passar alguns minutos na mente do ator John Malkovich. Resolve alugar a passagem como forma de ficar rico, o que faz com que se desenrolem complicações várias.
A eleição brasileira oferece um roteiro igualmente fantástico. O aluguel que o PT propõe não é da mente de um ator, mas do corpo de um presidiário. O “inquilino” da paródia “Quero ser Lula” se chama Fernando Haddad, e parece disposto a abrir mão temporariamente da própria biografia para personificar a do padrinho, atualizando as definições de poste que já valeram até mesmo para si há seis anos.
Terão, o Malkovich de Curitiba, o PT e Haddad, uma empreitada complexa pela frente, ainda que facilitada pelo impressionante índice de pessoas que se mostram dispostas a votar em Lula, 37% de acordo com a pesquisa Ibope/Estado/TV Globo.
Isso porque a mesma pesquisa aponta que 60% do universo de eleitores não votariam em Haddad de jeito nenhum. Isso pode mudar a partir de uma ostensiva campanha de transferência de votos, que começa com o vídeo dos milhões de Lula? Pode. Mas não será tão trivial como foi com Dilma em 2010 ou o próprio Haddad em 2012.
Porque Lula está preso, porque o PT não dispõe mais dos recursos fartos das empreiteiras que irrigaram as campanhas mencionadas, segundo relatos do próprio marqueteiro-milagreiro João Santana, e porque o PT não está mais no poder, usando moedas como a ameaça do fim do Bolsa Família para assustar eleitores como fez contra Marina Silva em 2014.
A pesquisa mostra ainda que passam de 50% os que não chancelariam Haddad no Nordeste, entre os eleitores mais pobres e os de baixa escolaridade, segmentos em que o voto em Lula é majoritário.
Quanto mais tempo o PT levar para massificar a estratégia de tornar o ex-prefeito de São Paulo conhecido (o que depende da admissão definitiva de que é ele o candidato), menos tempo haverá para penetrar nesse eleitorado fiel.
NA TV
Campanhas se unem para retomar spots de 15 segundos
As campanhas presidenciais se uniram e vão levar ao TSE pleito pela permissão para comerciais de 15 segundos na propaganda eleitoral. Pelas regras aprovadas para esta eleição, os filmes só podem ter 30 segundos ou 1 minuto. Os spots mais curtos são considerados mais eficientes por permitir maior frequência. Advogados dos candidatos sustentam que o pleito é viável, pois nas campanhas anteriores nunca se especificou o tempo dos comerciais.
MOTE
Alckmin vai investir em ‘esforço conciliatório’
Geraldo Alckmin definiu a ideia central da campanha: a de que o País precisa de um esforço conciliatório para sair da crise. Vai evocar momentos em que foi necessário evitar extremos para que o Brasil saísse de impasses e tentará se apresentar como opção à divisão entre bolsonaristas, de um lado, e lulistas, de outro. É a ideia dos que propunham a “união do centro”, que agora será martelada em debates, entrevistas e propaganda.