Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Carlito Lima - Histórias do Velho Capita domingo, 05 de maio de 2019

GUILHERME BRAGA

 

 

GUILHERME BRAGA

 

Sábado pela manhã esperando o médico para realizar um exame da próstata, encontrei o amigo Jair na mesma situação. Ele olhou-me, e risonho filosofou.

– Antigamente no dia de sábado nos encontrávamos sempre num bar ou birosca para uma cervejinha gelada e uma boa conversa. Hoje perto dos oitenta estamos nos encontrando nos consultórios médicos e laboratórios, mas não há outro jeito de chegar a nossa idade.

 

 

Na verdade o que mais dói é irmos ao cemitério despedirmos de amigos de infância e juventude. A semana passada foi dolorosa, morreu Cristina Braga no domingo e oito dias depois seu marido, meu querido, Guilherme Braga. Nossa amizade vem desde os anos 50 na Avenida da Paz, no futebol praieiro, no jogo de botão, ximbra ou o pião. Depois vem a vida e nos separa, cada qual no seu canto e em cada canto uma dor, mas sempre encontrava Guilherme, figura alegre, bem humorada com incríveis histórias.

Amigos de infância não se podem fazê-los, são apenas aqueles poucos. Há alguns anos foi criada a Confraria dos Meninos da Avenida, onde os ex-moradores da Avenida da Paz reúnem-se mensalmente e no final do ano. Guilherme era um dos membros constantes, sua presença, suas histórias, alegravam os Meninos da Avenida. Guilherme fará muita falta ao nosso convívio, à sua cidade, Maceió.

Quando morre um amigo mais chegado, lembro-me do poema de John Donne que diz mais ou menos assim: “Nenhum homem é uma ilha, todo homem é um pedaço de um continente, uma parte de um todo. Se um torrão de terra for levado pelas águas até o mar, a Europa fica diminuída, a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes: Por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”.

Finalizo essa homenagem ao amigo Guilherme, repassando o texto escrito por seu querido primo, o cineasta Cacá Diegues, lido por seu irmão, Nelsinho, durante a missa.

“Elegia de Cacá Diegues para Guilherme: Guilherme Braga sempre foi minha principal referência de Maceió, durante toda a minha vida. Mesmo morando longe de Alagoas, era ele quem me aproximava da cidade e de seus costumes, me atualizando sobre os acontecimentos gerais e particulares de minha terra e de minha família. Filho da irmã de minha mãe, Guilherme era portanto meu primo-irmão. Mas mais irmão do que primo.

Todo lugar desse mundo tem sempre quem o representa melhor, por motivos distintos e variáveis. No caso de Guilherme Braga, ele era a pessoa mais facilmente identificável com o estado e a cidade. Não apenas por seu amor a ambos, como também pela sua compreensão do que Alagoas e Maceió significavam em sua generosa vida e na vida de todos nós.

Qualquer dúvida, bastava consulta-lo para entendermos porque Fulano, tão cheio de evidentes pecados ou longe do retrato-falado do cargo, tinha se tornado Senador, Deputado, Governador, Prefeito ou seja lá o que for. Assim como para passarmos a achar natural o casamento entre Cicrana e Beltrano, que aparentemente se odiavam tanto, por família, política ou pura antipatia. Guilherme sabia de tudo e nos explicava, em detalhe, cada movimento ocorrido nessa terra misteriosa e surrealista, tão bela quanto inesperada. Tão inexplicável.

Desde que viemos ao mundo, com pouquíssima diferença de idade, nos tornamos parceiros no futebol de praia e na vadiagem da Avenida da Paz. Eu ainda era menino, quando meus pais deixaram Maceió e nos mudamos para o Rio de Janeiro. Mas nem assim deixei de vê-lo a cada ano, sem faltar nenhum. Acho que se isso tivesse acontecido, aí sim eu estaria distante de minha terra, perderia de vez o sentido dela.

Hoje, quase chegando aos oitenta anos de idade, vejo Guilherme partir como quem vê partir um pedaço tão grande da vida. Ele deixa, dentro de mim, um exemplo de afeto inesgotável. Além do humor com que via tudo no mundo e que vai me fazer muita falta. A única compensação é a de que ninguém poderá nos tirar a alegria de sua lembrança.

A memória é a maior formadora do caráter de uma pessoa; a minha estará sempre inspirada nele.

Cacá Diegues, 29 de abril de 2019


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