Imagine-se na Praça dos Três Poderes. Em meio aos imponentes monumentos arquitetados pelo carioca Oscar Niemeyer, outra obra chama a atenção. É preciso erguer o pescoço para admirá-la. Os oito metros de altura da escultura Os Candangos, do paulista Bruno Giorgi, são um convite à história. Também um apelo para entender o passado, como homenagem aos operários Expedito Xavier Gomes e Gedelmar Marques, mortos soterrados durante a construção de Brasília, e símbolo da materialização dos esforços diários do povo da capital federal nos diversos campos — incluindo os de futebol.
Assim como os trabalhadores responsáveis por construir Brasília, o futebol local se orgulha da receptividade. Equipes de Goiás e Minas Gerais ousaram cruzar as divisas e disputar o torneio. Vencê-lo é outra história. Somente o Luziânia, em 2014 e 2016, ostenta o feito de "forasteiro" campeão. Dois mil e oitenta e seis dias depois, o cenário é totalmente diferente. Nenhum clube do Entorno tem credencial para a disputa. Esqueça clubes como o próprio Igrejinha, Paracatu-MG e Formosa-GO. Agora, a disputa é realmente exclusiva entre representantes das fronteiras do Distrito Federal.
Pela segunda vez em 23 anos, o Candangão tem somente clubes nascidos na capital. A 65ª edição do torneio oferece outro ingrediente: briga de vizinhos. Somente Planaltina e Real Brasília não disputam partidas contra "inimigos íntimos". Pouco mais de 8km separam os estádios de Brasiliense e Samambaia, times de duas das três regiões mais populosas do DF. A distância é ainda mais curta entre Ceilândia e Ceilandense; e Paranoá e Capital. O Coruja foi fundado no Guará, mas fortalece os laços com o povo do "rival". Gama e Santa Maria também entram na lista.
A proximidade entre os estádios disponíveis para as disputas é uma outra peculiaridade. Até o momento, seis palcos estão aptos a receber, pelo menos, os 45 jogos da primeira fase: Abadião (Ceilândia), Bezerrão (Gama), Defelê (Vila Planalto), JK (Paranoá), Rorizão (Samambaia) e Serejão (Taguatinga). O Correio Braziliense calculou a distância média entre as casas dos clubes em um raio de 9,4km. Partindo do Paranoá, o deslocamento total até o outro extremo, no Gama, passando pelas outras praças, é de 56,4km.
Alcançar o prestígio local também oferece a chance de desbravar o Brasil. Campeão e vice terão o direito de disputar a Série D do Brasileirão de 2025. Caso Brasiliense ou Real Brasília terminem em primeiro ou segundo no Candangão e saltem da quarta para a terceira divisão do país, a vaga será aberta para a outra dupla semifinalista.
Confira o perfil de todos os clubes que disputam o Candangão:
- Brasiliense persegue taça para se aproximar de recorde
- Capital quer um ninho ainda maior para a Coruja
- Campeão da Segundinha, Ceilandense quer surpreender
- Samambaia terá garotos em ação no Rorizão
- Ceilândia busca a redenção por primeiro título em 12 anos
- Real Brasília mira continuar no topo e alçar voos maiores
- Planaltina quer recuperar a tradição na volta à elite
- Gama aposta na base para voltar aos dias de glória
- Santa Maria luta pela permanência na primeira divisão
- Paranoá esbanja confiança e estipula meta ousada
*Estagiários sob a supervisão de Marcos Paulo Lima