GUBBIO – A PEREGRINAÇÃO – PARTE I
Robson José Calixto
Me lembro de teus olhos brilharem quando te falei de Gubbio, cidade medieval muito bem preservada na Itália. A primeira vez que ouvi falar dela, foi na segunda metade da década de 1990, por meio de Haratz, judia-panamenha que conheci em Londres, Reino Unido, em uma das sessões da Organização Marítima Internacional – IMO. Ficamos amigos e nos comunicamos até hoje.
Haratz me falou que tinha conhecido Gubbio em um final de semana, com o noivo. Me falou maravilhas sobre a cidade, como era bela e cujo ambiente, ruas, vielas, casas, te transportavam no tempo para idade média. Aquilo ficou na minha cabeça, cheguei ver fotos pela internet, saber um pouco mais de sua história. Fiquei com vontade de ver, perceber e sentir o que Haratz viu e percebeu, sentiu. Não imaginara que isso demoraria cerca de 20 anos. Todavia aprendi desde cedo que certas coisas não dependem de nós, dependem de uma conjunção de fatores, do tempo e da imaginação.
Gubbio fica na região central da Itália, a Úmbria, pertencendo à Província de Perúgia. Por sua posição estratégica entre localidades ricas e poderosas, como Ravena e Roma, preconizadas pela disputa de poder e domínio italiano. A cidade também é muito conhecida por venerar São Ubaldo, bispo que obteve vitória miraculosa e esmagadora para a região, em 1151.
Já tendo descoberto em Perúgia o sistema de escadas rolantes que permitia a transição da parte mais antiga e mais alta dessa cidade para a mais moderna e em posição mais baixa, facilmente chegamos a pé à rodoviária. Da rodoviária até o ponto final em Gubbio, são cerca de 01h10min, na direção norte.
Os primeiros passos foram para reconhecimento do terreno, comprar água mineral, pois fazia muito calor. O Ponto de ônibus era do lado oposto de uma praça (Piazza 40 Martiri) e próximo ao uma banca/loja de venda de lembrancinhas. Mais adiante ficavam mesinhas e cadeiras próximas a um bar e uma área de atividade cultural. O prédio era bonito e imponente, antigo, com colunas e com motivos e arquitetura da idade média. Passando as mesinhas havia uma pequena feira livre que vendia frutas da região. Aproveitei para experimentar fruta cujo nome lembrava “percoca” (pêssego em italiano), mas não era exatamente um pêssego, apesar das notas saborosas desse fruto, apesar de incluir notas de laranja e ameixa. Muito sucoso, refrescante e cítrico.
Dali pegamos uma viela (Via Repubblica) em aclive para outras partes de Gubbio. Deu vontade de fazer xixi e eu e minha filha procuramos um banheiro público. Encontramos, ao entrar em um pátio (Piazza S. Giovanni) defronte a uma Igreja Católica. Descobrimos que o banheiro era pago e custava uma moeda de euro, que não tínhamos, o que me levou ao bar para comprar um café descafeinado e trocar uma nota de euro.
Voltamos até o banheiro público que inicialmente estava vazio. Precisávamos colocar um de cada vez moeda na roleta para entrarmos. De repente chegaram vários casais de turista brancos, aloirados, muitos bem grisalhos e de olhos azuis, falando inglês americano. Se depararam com a barreira da roleta e da necessidade de colocar uma moeda em euro. Não se fizeram de rogados, começaram a pular a roleta e usaram as dependências do banheiro público sem pagarem um tostão em euro. Minha filha ficou horrorizada e viu que não eram sós os brasileiros que faziam bandalhas em suas viagens pelo mundo afora.
Já estávamos ali, então resolvemos entrar na Igreja. Tiramos muitas fotos de pinturas e imagens. Uma dessas pinturas retratava Jesus com os Apóstolos em uma barca. Imagem de Nossa Senhora da Glória, em madeira escura, se destacava.
Saímos e seguimos pela Via Repubblica, com suas calçadas estreitas e piso de paralelepípedo quadrado e bem polido. Passamos pela Taverna do Lupo que chamava muito atenção por usar escudos de madeira, pintados de verde e letras amarelas afixados nas paredes externas.
Finalmente chegamos ao elevador que nos levaria até o Palácio dos Cônsules, construído no século XII, que já permitia uma bela visão de Gubbio. Lá estavam muitos turistas, inclusive os velhinhos que pularam a roleta na entrada dói banheiro público.
Fim da Parte I. Continua.
Brasília, 07/04/2019.
Nota: Este não é um texto de ficção, mas baseado inteiramente em fatos reais, para uma realidade de junho de 2018.