GUBBIO – A PEREGRINAÇÃO (O CAMINHO DE SÃO UBALDO) – PARTE II
Robson José Calixto
Na vida fazemos, entre as certas, muitas coisas erradas. Não devido à sinceridade e à verdade em nossos corações, mas por vezes pelo modo de fazer. Se relacionar com os demais não é fácil, nem sempre conseguimos nos fazer entender, decodificar nossas mensagens.
Um dia você cai em si e sente – talvez seja até um chamado – que precisa pegar um caminho, não qualquer caminho, um especial que possa trilhar com um sentido de deixar para trás o que não ficou bem resolvido e buscar coisas novas. Pisar em trilhas que outros pisaram no passado, mesmo distante, com esse mesmo sentido, de limpar-se, ficar mais leve, doar-se por si mesmo, pelos demais, por algo maior. Todavia você não sabe exatamente o quê. O Tempo lhe dirá...
Então pegamos o elevador que nos levaria até o Palácio dos Cônsules, construído no século XII, que permite uma bela visão de Gubbio, com suas igrejas e casas de telhados um tanto ocre-claro; ao fundo uma cadeia de pequenas, no alto algumas nuvens, beleza cênica natural e divina. O pátio central é amplo e na borda da murada podem ser vistos pelotas das bombas aéreas de pombos e, talvez, alguns liquens que irradiam amarelados.
Um veículo como se fosse um bonde reboca uma série de “liteiras” modernas e abertas para turistas circularem pela cidade. O comboio avermelhado passa ao fundo.
Passamos pelo Hotel-Bar Relais Ducale dito “Il Caffè di Terence Hill”, famoso pelos seus filmes de faroeste (“espaguete”) na década de 1970, com o personagem Trinity ("A mão direita do Diabo"). Podem ser vistas algumas fotos dele sentado à mesa tomando o seu café, além da própria mesa arrumada como se ele estivesse ali.
Mais à frente as lojinhas de imagens de santos, papas, cavaleiros, fadas, duendes, buquês, de todo os tipos e diferentes tamanhos.
Começamos a caminhar e encontramos algumas trilhas que nos levavam mais acima da na cidade, muradas mais altas onde paramos para tirar mais fotos. Uma nova igreja, rodeada (“Orti Della Cattedrale”) por capim verde-amarelado entremeado de florezinhas azuis e outras bem avermelhadas, onde começava área não edificável.
Um bebedouro com torneira na forma de cachorro e água natural gelada nos suavizou a sede, naquele dia de sol forte e céu limpo, com poucas nuvens. Em um canto, com grades, um pequeno jardim com grandes e lindíssimas rosas cor de sangue.
Então nos deparamos com um portal medieval de pedras polidas e encaixadas, muito bem conservado, em aclive, em chão de areia, com sinalização que dizia: “Mura Urbiche e Porta di S. Ubaldo”. Claro que iríamos atravessá-la!
À frente um caminho, com as laterais cobertas de vegetação, árvores, belos cipreste. Mais adiante uma pequena cancela, como para impedir a passagem de carros. Vimos m casal com roupas e utensílios próprios para caminhadas em trilhas, apoiados por hastes como se usa em locais com neve (“bastões de neve”).
À esquerda um oratório com porta de vidro de onde se podia ver através, reconhecendo-se a imagem do Bispo e Santo Ubaldo. Abaixo do oratório, como inscrito em uma placa se lia em italiano:
“Deus onipotente e misericordioso, tu provês aos que te amam, sempre e em onde estejam, para aqueles que te procuram com o coração sincero; pela mediação de São Ubaldo, assisti teus filhos na peregrinação e guia seus passos na tua vontade, pois protegidos pela tua sombra durante o dia e pela tua luz à noite, elas possam atingir a meta desejada.”
Depois de tanto procurar o caminho, sem achá-lo, ele é que me achou... Algo comum na minha vida. O caminho seria o de São Ubaldo, ali em Gubbio, Itália, subindo o monte Ingino.
Ubaldo Baldassini era de família de origem alemã, mas nasceu em Gubbio, em 1085, tendo sido criado por um tio que lhe orientou o caminho no âmbito da fé e religiosidade católica. Em 1129 foi nomeado bispo de Gubbio pelo papa Honório II. Passou a ser considerado pela cidade herói por ter evitado a sua invasão por Frederico Barba-Roxa, em 1155. Em 1192 foi canonizado e proclamado Santo pelo Papa Celestino III, sendo comemorado a 16 de maio, dia de sua morte. Os devotos devem recorrer a São Ubaldo “contra omnes diabolicas nequitias” (“contra todos os assaltos do diabo”). Quando canonizado, apesar de já ter sido enterrado, seu corpo foi encontrado “flexível e incorrupto” (Wikipédia).
Fim da Parte II. Continua.
Brasília, 13/04/2019.