Autêntica e direta, a cantora se reinventou, mais uma vez, durante a pandemia. Em setembro do ano passado, casou-se com o músico Esdras de Souza (é o sexto casamento oficial, segundo o seu biógrafo Fabio Fabricio Fabretti). “É a primeira vez que sou feliz de verdade”, declara. Diante da impossibilidade de fazer shows, colocou a vasta experiência em prática dando consultorias de vida. “Recebo milhares de directs por dia de pessoas me pedindo conselhos e orientação. A partir da pandemia, a vontade de me profissionalizar para trabalhar como coach ficou mais latente. Descobri ser uma coach nata. Estimulo quem está do meu lado a alcançar os objetivos e a se valorizar.”
A seguir, trechos da entrevista em que Gretchen fala sobre feminismo, maternidade, amor e estética.
O GLOBO: Qual é a lembrança de quando foi censurada pela ditadura militar?
Comecei muito jovem, tinha 18 anos. Deixei de lado a faculdade de Comunicação e fui retomá-la anos depois, quando já era mãe. No começo, era tudo estranho e novo. Ao ser censurada (a cantora precisou ficar um mês afastada da televisão), não entendi bem o que estava acontecendo. Fui criada dentro de casa, meu pai era muito rígido com a gente.
Como era a sua relação com ele?
Puxei a personalidade forte do meu pai, sempre fui ele de saia. A gente brigava muito. Bem novinha, aos 10 anos, já tinha um pensamento para frente, totalmente fora do contexto daquele tempo. Meu pai batia na minha mãe e eu falava para ela: “Separa desse homem, o que você está fazendo nesse casamento?”. Ele era traumatizado, foi militar e serviu como enfermeiro na Segunda Guerra Mundial, viu um monte de gente mutilada, amigos, inclusive. Por isso, passou a beber, para esquecer essas coisas. Quando era pequena, tinha raiva, mas depois eu o compreendi.
Como lidou com o machismo naquela época?
Quarenta anos atrás, precisei me digladiar com todo o mundo para me impor, até por que já era feminista e empoderada. Nunca quis ser submissa a nenhum homem. A mulher era um objeto vendável, o corpo era visto como um produto. Não me submeti àquele cenário. Dançava e cantava por que queria, e também por ser a maneira que tive de trabalhar e ganhar meu dinheiro. Sempre gostei de dançar. Fiz balé clássico, jazz, contemporâneo. A dança é um ponto forte da minha vida.
O que representa a maternidade na sua vida?
Sempre tive muita necessidade de ser mãe. Tenho sete filhos (Thammy, de 38 anos; Décio, de 36, Jenny, de 32; Sérgio, de 28; Gabriel, de 24; Giullia, de 18; e Valentina, de 10). Adotei a Jenny e a Valentina e é um amor único. Todos eles são bem-sucedidos. Nunca quis pensão dos pais deles porque teria que me submeter à educação que eles iam querer dar. Jamais fui ao tribunal pedir dinheiro. Sempre falei: “Você dá se quiser porque trabalho e posso sustentá-los”. Eu decidi ser mãe. Me considero maternal, mas não sou superprotetora. A vida inteira falei para os meus filhos: “Viajo todos os meses, um dia posso não voltar, vocês precisam saber se virar sem mim”. Desde cedo, eles têm essa consciência.
Você se considera feminista?
Feminista feminina. Gosto de cuidar do meu marido, de mimá-lo.
De que maneira encarou as decisões do thammy?
Na infância, Thammy gostava de roupa de homem, curtia brinquedos de menino e queria fazer xixi em pé. Eu não percebi por não ter, naquela época, conhecimento dessa questão. Aos 15 anos, ele se relacionou com uma mulher. Passamos por um longo processo, que envolveu compreensão, amor e inúmeras conversas. É uma aceitação. Pais e filhos precisam caminhar juntos, aí tudo dá certo. Sempre apoiei o Thammy, estive e estou ao seu lado em todas as decisões.
Como está o casamento?
É a primeira vez que sou feliz de verdade. Eu passaria tudo de novo se soubesse que o Esdras estaria no fim. Ele é o homem que sempre sonhei. As pessoas falavam: “Esse homem que você imagina não existe”. Respondia: “Existe sim e vou achá-lo”. Esdras é gentil, carinhoso, companheiro e me deixa ser eu mesma. Ele gosta de mim como eu sou.
E o sexo na maturidade?
É o melhor que existe. É quando a mulher mais aproveita por ter como dizer o que e como gosta. Não sente mais vergonha nem tem de dar dar satisfação para ninguém. Faço reposição hormonal e isso me deu vida e bem-estar. Hoje também existem os “brinquedinhos”, aparelhos que são excelentes. As mulheres nem precisam mais ir para sites de relacionamento.
Continua adepta de tratamentos estéticos?
Adoro e pretendo seguir fazendo procedimentos de beleza pelo resto da vida. Fico feliz em saber que, daqui a dez anos, terão novidades, porque sei que os médicos continuarão a estudar. No meu Instagram, costumo mostrar os tratamentos por saber que muitas mulheres sentem medo. Já incentivei muitas delas. Outro dia falei para o Thammy: “O dia em que eu estiver para morrer, você tinge o meu cabelo”. Gosto de ser como sou. Tenho espírito jovem e vou continuar sendo jovem. Não tenho medo de envelhecer porque já estou velha, mas quero ser uma velha nova. É uma opção.
Cmo surgiu a vontade de se tornar coach de vida?
Recebo milhares de directs por dia de pessoas me pedindo conselhos e orientação. A partir da pandemia, a vontade de me profissionalizar para trabalhar como coach ficou mais latente. Se não fosse a nova profissão, estaria há quase dois anos sem trabalhar. Durante o curso de Master Coach, descobri ser uma coach nata. Estimulo quem está do meu lado a alcançar os objetivos e a se valorizar. Fui atacada por psicólogos, mas a profissão de coach é reconhecida. Não me preocupo com as críticas. O que interessa é o que decidi para minha vida.