Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

O Globo domingo, 02 de agosto de 2020

GRAVIDEZ INDESEJADA E CASAMENTO INFANTIL

 

Gravidez indesejada e casamento infantil: o impacto terrível da pandemia nas vidas de meninas na América Latina

Fundo de Populaçãoda ONU estima que crise econômica resultante da pandemia de Covid-19 e precariedade dos serviços de saúde sexual e reprodutiva poderão deixar 18 milhões de mulheres e adolescentes sem acesso a métodos contraceptivos e levar a mais de 600 mil gestações
 
Casamento afasta meninas dos seus sonhos, escola, família e amigas Foto: Ilustração de Lari Arantes
Casamento afasta meninas dos seus sonhos, escola, família e amigas Foto: Ilustração de Lari Arantes
 
 

CIDADE DO MÉXICO E BOGOTÁ. Quando a barriga de sua filha começou a crescer, em maio, Paloma descobriu o inimaginável. A menina de 11 anos tinha sido abusada sexualmente pelo padrasto. Paloma, cujo nome foi modificado para esta reportagem, levou a filha a um hospital público no estado de Michoacan, no oeste do México, mas o aborto foi negado. Por lei, os hospitais públicos mexicanos têm de realizar abortos para sobreviventes de estupros - e também quando a saúde da mulher está em risco e, em alguns casos, quando o feto está deformado, mas, na prática, muitos hospitais se recusam a fazer o procedimento.

No ano passado, um total de 470 abortos legais foram realizados no sistema público de saúde mexicano, um país de 126 milhões de pessoas, de acordo com dados do Ministério da Saúde local. Por toda a América Latina, fazer um aborto costuma ser difícil, mas é ainda mais durante o período de isolamento social necessário para conter a pandemia de Covid-19, dizem especialistas. Juntos, a América Latina e o Caribe têm mais de 4,3 milhões de casos do novo coronavírus.

Especialistas alertam para um aumento no número de gravidezes de adolescentes já que o acesso ao aborto e aos métodos contraceptivos ficam mais restritos devido à concentração de recursos nos esforços para combater a Covid-19 - mesmo que a maioria dos país latino-americanos permita, por lei, a realização do procedimento em casos de estupro.

- Infelizmente, ainda há muita ignorância da população e dos serviços de saúde sobre a lei - diz Karla Berdichevsky, que dirige o Centro Nacional para Equidade de Gênero e Saúde Reprodutiva, veiculado ao Ministério da Saúde mexicano.

Para a menina de 11 anos grávida, a organização sem fins lucrativos Las Libres, que trabalha pelos direitos das mulheres, conseguiu que ela realizasse o procedimento em uma clínica particular na Cidade do México, em junho, quando a gravidez tinha 17 semanas.

 

- As meninas não têm nenhum poder - diz Veronica Cruz, fundadora da Las Libres. - São exatamente elas que precisam de mais acesso, mais orientação, mais de tudo do estado e, não, o que acontece é o oposto.

Brasileiras não se calam:mulheres relatam violências constantes sofridas em Portugal e outros países

Em toda a região, as adolescentes têm dificuldade de conseguir contraceptivos, que é distribuído gratuitamente pelo governo ou organizações não governamentais. Na Colômbia, por exemplo, menos de um terço das meninas entre 15 e 19 anos relatou usar contraceptivos em um país em que cerca de uma em cada cinco adolescentes é mãe ou está grávida.

- Temos muitas necessidades que não são atendidas em termos de planejamento familiar. Mas isso se agrava com a pandemia - diz Alma Virginia Camacho-Hubner, conselheira regional sobre saúde sexual e reprodutiva do Fundo de População da ONU (UNFPA).

O governo do México calcula que poderá haver cerca de 22 mil gravidezes indesejadas além do normal entre meninas de 15 e 19 anos apenas em 2020, por causa da acesso difícil aos métodos contraceptivos. Por toda a América Latina, 18 milhões de mulheres e adolescentes poderão deixar de usar contraceptivos durante a pandemia, o que poderá levar a mais de 600 mil gravidezes indesejadas, diz uma estimativa do UNFPA.

 

Abuso sexual dentro de casa

Antes do novo coronavírus, a América Latina e o Caribe registraram o segundo número mais alto de gravidez na adolescência, só perdendo para a África subsaariana, de acordo com o UNFPA. Entre 2010 e 2015, em toda a região, foram 66,5 nascimentos por 1.000 meninas. O número global é de 46 nascimentos por 1.000 meninas.

O número alto de gravidez entre adolescentes na América Latina se deve a falta de controle de natalidade, violência sexual e falta de educação sobre os direitos das meninas e das mulheres. Uma das causas das gravidezes entre adolescentes é o abuso sexual cometido dentro de casa, por parentes. O isolamento social e o consequente fechamento das  escolas significam que meninas estão trancadas em casa com seus abusadores.

- As casas não são lugares seguros agora, e meninas e mulheres estão trancadas com seus abusadores - afirma Daniel Molinda especialista em gênero e masculinidades na organização Plan International.

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Relatos de violência sexual durante o isolamento social aumentaram embora não existam dados que mostrem quantos resultaram em gravidez. Em muitos países, serviços telefônicos criados pelos governos foram inundados de chamadas relatando violência sexual. Apenas no Peru foram 17 mil chamadas sobre violência sexual contra crianças nos primeiros 107 dias de isolamento.

 

Na Colômbia, cerca de 22 casos de abuso sexual contra meninas foram denunciados por dia do início do isolamente , em 25 de março, até 23 de junho. Uma pesquisa online realizada pela Plan International,  conduzida em junho com 350 meninas de 12 países, incluindo cinco nações latino-americanas, mostrou que a maioria delas estava preocupada com violência de gênero durante a pandemia. Havia também medo de que a pobreza resultante da pandemia pudesse significar que meninas estão mais vulneráveis a um casamento não desejado ou a ter de viver com um homem porque suas famílias já não podem mais prover seu sustento.

Na região, um adicional de 50 milhões de pessoas entrará para a pobreza ou pobreza extrema por conta do impacto econômico da pandemia, segundo uma estimativa da ONU.

- As meninas estão vendo o casamento precoce como uma saída para a pobreza. Mas quando elas chegam lá, elas entendem que é um outro espaçode abuso - encerra Daniel Molina.


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