Diante de um cenário social cada vez mais dramático, a ONGHuman Rights Watch (HRW) divulgou um amplo relatório sobre a crise humanitária na Venezuelae pediu que o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, lidere esforços para ajudar a população do país, incluindo ações dentro do território venezuelano. Em entrevista a vários jornalistas da região, Tamara Taraciuk, pesquisadora da HRW e autora principal do documento intitulado "Emergência humanitária na Venezuela: Resposta da ONU em grande escala é necessária para enfrentar a crise de saúde e alimentos", assegurou que o organismo "não está à altura das circunstâncias".
— Guterres deveria declarar oficialmente que a Venezuela está enfrentando uma emergência humanitária complexa, termo próprio da ONU que ajudaria a destravar a mobilização de recursos suficientes para atender as necessidades urgentes do povo venezuelano — disse Tamara.
Segundo a pesquisadora, o secretário-geral das Nações Unidas também precisa pedir às autoridades do país que "concedam ao pessoal da ONU acesso total aos dados oficiais sobre doenças, epidemiologia, segurança alimentar e nutrição, para que possam realizar uma avaliação independente e abrangente das necessidades humanitárias de todo o escopo da crise".
Perguntada sobre a necessidade de que profissionais estrangeiros entrem ao país, Tamara foi enfática:
— Sim, precisamos de uma resposta em grande escala por parte das Nações Unidas.
Para a pesquisadora, "Guterres não deve negociar com (o presidente Nicolás) Maduro para levar medicamentos e alimentos, o que queremos é que aumente a pressão internacional partindo do mais elevado nível de poder da ONU".
— A diplomacia silenciosa de Guterres não foi bem sucedida. Os resultados apresentados mostram uma crise devastadora — frisou Tamara.
A HRW trabalhou com pesquisadores da Faculdade Bloomberg de Saúde Pública da Universidade Johns Hopkins e entrevistou 150 pessoas. O documento é uma dura crítica ao governo de Maduro, considerado o grande reponsável pela crise humanitária que assola o país.
— Não importa o quanto tentem, as autoridades venezuelanas não podem esconder a realidade em campo — disse Shannon Doocy, Ph.D. e professora associada de saúde internacional da Faculdade Bloomberg de Saúde Pública da Universidade Johns Hopkins, que conduziu pesquisas na fronteira da Venezuela.
O documento inclui dados que refletem a dimessão da crise na saúde: entre 2008 e 2015, apenas um único caso de sarampo foi registrado (em 2012); desde junho de 2017, mais de 9.300 casos de sarampo foram notificados, com mais de 6.200 confirmados; a Venezuela não teve um único caso de difteria entre 2006 e 2015, mas mais de 2.500 casos suspeitos foram notificados desde julho de 2016, incluindo mais de 1.500 casos confirmados; a Organização Mundial da Saúde (OMS) relata que casos confirmados de malária têm aumentado consistentemente nos últimos anos — de menos de 36.000 em 2009 para mais de 414.000 em 2017; o número de casos notificados de tuberculose aumentou de 6.000 em 2014 para 7.800 em 2016, e relatórios preliminares indicam que houve mais de 13.000 casos em 2017.