Gravatas? Cortei-as todas tão logo assinei minha ficha de Aposentadoria do Banco Central, numa bela manhã de um outubro de mil novecentos e nem me lembro. Não teriam serventia a partir daquele instante. Restou, de quase 30, apenas uma que pretendia guardar para a eventualidade de precisar dela em algum evento futuro. Achei uma tremenda sacanagem com aquelas que foram amputadas e, ao invés de guardá-la como inicialmente pretendia, dei de presente a um dileto amigo que a guarda até hoje, disse-me um dia desses. Os paletós, usados em tantas e tantas missões no meu trabalho, companheiros de viagem por tantos lugares desse Brasil, dei-os de presente a um cunhado que mora bem no alto da Serra do Araripe, entre o Crato e Nova Olinda. Usa-os como casaco para proteger-se do frio que faz nas noites que ali são quase geladas em junho, julho. Melhor utilidade não poderia ter se acaso comigo tivessem ficado. Sapatos, restou-me apenas um, meio avermelhado, lustroso e bonito, daqueles que, ousadia minha, só os doutores e intelectuais usam, mas sem utilidade para mim desde aquele outubro de alegrias. Não preciso de sapatos para ser feliz. Pode ser que dele precise qualquer dia. Preferia que não. E eu que pensava que fazer nada era a melhor coisa do mundo, descobri que não é: a melhor coisa do mundo é fazer nada, sem gravata, sem paletó e descalço.
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