O grande poeta cantador pernambucano Valdir Teles
* * *
Valdir Teles glosando o mote:
Quando chega o inverno Deus coloca
Mais fartura na mesa do roceiro.
A matuta faz fogo de graveto
“Freve” o leite que tem no caldeirão
Bota sal na panela do feijão
E assa um taco de bode num espeto
Onde a música do sapo é um soneto
Mais bonito na beira de um barreiro
Não precisa zabumba nem pandeiro
Que o compasso da música é Deus que toca
Quando chega o inverno Deus coloca
Mais fartura na mesa do roceiro.
* * *
Renato Santos glosando o mote:
Retirei a aliança do meu dedo
Sem tirar teu amor do coração.
Assinei do divórcio a papelada
Dei-te casa, dinheiro e boa vida
E você hoje se finge de esquecida
Dos bons tempos da vida de casada
Talvez minta não estar apaixonada
Mas aposto que bota o anel na mão
E por mais que engane o coração
Eu te conto meu bem o meu segredo
Retirei a aliança do meu dedo
Sem tirar teu amor do coração.
* * *
Violeiro Baixinho glosando o mote:
Quem tem mulher ciumenta
Tem o cão pra lhe atentar.
Não sai de casa sozinha
Respeitando seu partido
Mas tem raiva se o marido
Só chega de manhãzinha
E se ele olhar pra vizinha
Mesmo sem querer olhar
Ela pega a ciumar
Nem o satanás lhe aguenta
Quem tem mulher ciumenta
Tem o cão pra lhe atentar.
* * *
Biu Salvino glosando o mote:
Um menino dormindo na calçada
E um cachorro servindo de vigia.
Madrugada de erro e precipício
De assaltos de tráficos e escândalos
Praça pública quebrada pelos vândalos
Onde o mundo do crime tem início
Das badernas do baixo meretrício
Onde o povo de Deus se distância
Pelo laço da corda da orgia
Se avista a moral sendo enforcada
Um menino dormindo na calçada
E um cachorro servindo de vigia.
Um menino que passa a vida sua
Sem ter lar, sem escola e sem perfume
Uma vítima que o mundo não assume
Que no mundo das drogas continua
Por não ter um amparo vai pra rua
Mal vestido com fome mão vazia
Pai inútil cruel e mãe vadia
Que só fez por no mundo e não deu nada
Um menino dormindo na calçada
E um cachorro servindo de vigia.
* * *
Lenelson Piancó glosando o mote:
Um espírito de luz chamado amor
Me tirou do umbral da solidão!
Sei que Paulo de Tarso foi romano
Perseguiu os cristãos perante a cruz
Mas um dia em Damasco, viu Jesus
E a visão do amor, mudou seu plano
Sem rancor, nosso mestre soberano
Fez de Paulo de Tarso um bom cristão
E por isso eu espero o meu perdão
Porque sei que Jesus não tem rancor
Um espírito de luz chamado amor
Me tirou do umbral da solidão!
* * *
Marco Haurélio glosando o mote:
Mulher nova, bonita e carinhosa
Faz o homem gemer sem sentir dor.
Júlio César, notável general,
Vencedor dos egípcios e gauleses,
Teve o nome incluído num dos meses,
E, por isso, tornou-se imortal.
Se no campo de luta era brutal,
Noutro campo perdeu seu destemor:
De Cleópatra tornou-se vencedor,
Mas rendeu-se à musa esplendorosa.
Mulher nova, bonita e carinhosa
Faz o homem gemer sem sentir dor.
* * *
Cícero Moraes glosando o mote:
Tudo o que há de beleza
Deus colocou no sertão
A suprema divindade
Caprichou no seu trabalho
Não deixou serviço falho
Fez com grandiosidade
Construiu com qualidade
Retocou com perfeição
Quem quiser diga que não
Mas afirmo com certeza
Tudo que há de beleza
Deus colocou no sertão
Um céu bonito estrelado
Que não há em outro lugar
Quem observa o luar
Fica logo encantado
Um vaga-lume amostrado
Completa a orquestração
Da bela composição
Do quadro da natureza
Tudo que há de beleza
Deus colocou no sertão
Ver um açude sangrando
Alegra qualquer matuto
Que já fica resoluto
Na pescaria pensando
Vai os compadres chamando
Para fazer o pirão
Tomar cachaça e quentão
Na beirada da represa
Tudo que há de beleza
Deus colocou no Sertão.