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Pedro Nunes e Rômulo Nunes glosando o mote
No terreiro da casa do meu peito
Nasce um pé de saudade todo dia.
Pedro Nunes
Vi riachos descendo apressados
De chapadas, de vales e baixios
Carregando nas águas para os rios
O adubo das terras do Sertão
Uma rosa infeliz que foi ao chão
No tumulto das águas fenecia
Cada pétala vermelha que caía
Me deixava inda mais insatisfeito
No terreiro da casa do meu peito
Nasce um pé de saudade todo dia.
Rômulo Nunes
Se a cauã agorenta não mais canta,
Sertanejo já fica preparado,
Tira logo os bichos do roçado
E aguarda ansioso a chuva santa.
Seu depósito só tem milho de planta,
Resultado de sua economia
Tem feijão, jerimum e melancia
E um semblante alegre e satisfeito
No terreiro da casa do meu peito
Nasce um pé de saudade todo dia.
Pedro Nunes
Os enfeites na casa de um vaqueiro
São as botas, perneiras e gibão,
Um chocalho com o ferro do patrão,
Uma peia, uma corda, um peitoral,
Nos dois loros estribos de metal
Passadores, fivelas, prataria,
Uma sela com boa montaria
Para homem nenhum botar defeito
No terreiro da casa do meu peito
Nasce um pé de saudade todo dia.
Rômulo Nunes
Reviver o lugar que fui criado,
É para mim o desejo principal,
Esquipar em cavalo de pau,
Ossos velhos que eu tinha como gado,
Um pião com ponteira bem pesado,
Que eu jogava com muita maestria,
São brinquedos que eu tinha alegria,
Nem queria saber por quem foi feito,
No terreiro da casa do meu peito
Nasce um pé de saudade todo dia.
Pedro Nunes
No alpendre da casa onde eu morava,
Ouvi muitas histórias de vaqueiros,
De cruéis e terríveis cangaceiros
Que infestavam as estradas do Sertão
Foi Silvino, depois foi Lampião,
Atacando na hora que queria
E apesar do perigo que havia
Para idoso, mulher e homem feito,
No terreiro da casa do meu peito
Nasce um pé de saudade todo dia.
Rômulo Nunes
Bem sentado na calçada ou na cadeira,
Lá ouvia as estórias de trancoso
Sem dormir eu ficara bem medroso,
Mesmo assim não parava a brincadeira,
Quebra-pau, futebol, barra-bandeira,
Esconder, pular corda e academia,
Era assim que a vida me fazia,
Um garoto alegre e satisfeito,
No terreiro da casa do meu peito
Nasce um pé de saudade todo dia.
Pedro Nunes
Os vaqueiros famosos foram tantos
Nas caatingas fechadas do Sertão
Vi Cazuza, Ribinga e Militão,
Vi Charuto, Zé Mago e Oliveira,
Severino, Eugênio e Quixabeira,
Otaviano, Ricardo e Ventania
Eram homens de muita valentia
Para as lutas do campo e do eito
No terreiro da casa do meu peito
Nasce um pé de saudade todo dia.
Rômulo Nunes
Eu queria viver na natureza,
Pra sentir o cheiro da neblina,
Vendo o açoite do galo de campina,
Bem alegre a voar com sutileza.
O xexéu e o concriz, quanta beleza,
O tatú, o preá, peba e cutia
Caçador que atira, é covardia,
Sem amor, insensível e sem respeito,
No terreiro da casa do meu peito
Nasce um pé de saudade todo dia.
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João Paraibano e Severino Feitosa glosando o mote:
O poeta é um ser iluminado
que faz verso com arte e sentimento.
João Paraibano
Cada verso que o repentista faz,
para mim tá presente em toda hora,
no tinido do ferro da espora,
na passada que vem dos animais,
na cor verde que tem nos vegetais
nas estrelas que têm no firmamento,
tá na cruz do espinhaço do jumento,
e no vaqueiro correndo atrás do gado.
O poeta é um ser iluminado
que faz verso com arte e sentimento.
Severino Feitosa
O poeta é um gênio que crepita
no espaço azul esmeraldino,
percorrendo as estradas do destino,
sem saber o planeta aonde habita,
sua mente pra o canto é infinita,
cada verso que faz é seu sustento,
é quem sabe cantar o parlamento,
sem ter voto pra ser um deputado.
O poeta é um ser iluminado
que faz verso com arte e sentimento.
João Paraibano
Uma vida vivida no sertão,
uma fruta madura já caindo,
um relâmpago na nuvem se abrindo,
um gemido do tiro do trovão,
meia dúzia de amigos no salão,
nem precisa de um piso de cimento,
minha voz, as três cordas do instrumento,
o meu quadro de louco está pintado.
O poeta é um ser iluminado
que faz verso com arte e sentimento.
Severino Feitosa
O poeta é um simples mensageiro,
que acaba uma guerra e um conflito,
ele sabe cantar o infinito,
todas pedras que têm no tabuleiro,
a passagem do fim do nevoeiro,
que ultrapassa o azul do firmamento,
que conhece o impulso desse vento,
todas as rosas que enfeitam o nosso prado.
O poeta é um ser iluminado
que faz verso com arte e sentimento.
João Paraibano
Foi mamãe que me deu a luz da vida
e me ensinou a viver da humildade,
eu nasci para ter felicidade,
porque toco na lira adquirida,
poesia me serve de bebida,
um concerto me serve de alimento,
uma pedra me serve de assento
e todo rancho de palha é meu reinado.
O poeta é um ser iluminado
que faz verso com arte e sentimento.
Severino Feitosa
O poeta é uma criatura
que procura mostrar, no seu caminho,
toda uva do fabrico de vinho,
e toda planta que faz nossa fartura,
é quem sabe cantar a amargura
da pessoa, que está num sofrimento,
é quem sabe cantar o regimento
do quartel, que Jesus é delegado.
O poeta é um ser iluminado
que faz verso com arte e sentimento.