O paraibano Severino Lourenço da Silva Pinto, o Pinto do Monteiro (1895-1990)
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Pinto do Monteiro:
Quando é de manhãzinha,
Se apagam os pirilampos,
O homem vai para os campos,
A mulher vai pra cozinha;
Sacode milho à galinha,
Se, por acaso, ela cria!
Canta o galo, o pinto pia,
Salta o bode no terreiro,
Se despede o violeiro,
Dando adeus, até um dia.
Recordo perfeitamente,
Quando em minha idade nova,
O meu pai abria a cova,
E eu plantava a semente.
Eu atrás, ele na frente,
Por ter força e mais idade…
Olhando a fertilidade
Da vastidão da campina,
Aquela chuvinha fina
Me faz chorar de saudade.
Em dezembro, começa a trovoada,
Em janeiro, o inverno principia,
Dão início a pegar a vacaria:
Haja leite, haja queijo, haja coalhada!
Em setembro, começa a vaquejada:
É aboio, é carreira, é queda, é grito!
Berra o bode, a cabra e o cabrito;
A galinha ciscando no quintal,
O vaqueiro aboiando no curral;
Nunca vi um cinema tão bonito!
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Oliveira de Panelas:
Na mulher toda têmpera se envolve
Seu ciúme é cuidado impertinente
Seu desejo é fornalha incandescente
Quando pode, é perigo, o que devolve,
Quando está duvidosa só resolve
Pelo fio da ânsia propulsora,
Quando assume o papel de genitora
Aurifica seu corpo fecundante,
Pra tornar-se a maior representante
Dessa lei biológica criadora.
No namoro é centelha de ilusão
No noivado é a fonte de esperança
Sendo esposa é profunda a aliança
E faz unir coração com coração,
Como mãe é suprema adoração!
Sendo sogra é as vezes tempestade
Quando amiga, é amiga de verdade,
Sendo amante é volúpia no segredo,
Porém sendo inimiga causa medo
Ao mais forte machão da humanidade.
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Lenelson Piancó:
Completou a missão como ninguém
Muito antes que o pai lhe resgatasse
Jesus Cristo virou a outra face
Pra que seu seguidor vire também
Assombrada, ficou Jerusalém
Por Jesus perdoar o bom ladrão
Nosso mestre deixou o seu perdão
Para quem lhe furou com uma lança
Não permita que o vírus da vingança
Contamine de vez seu coração!
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Antônio Francisco:
Quem já passou no sertão
E viu o solo rachado,
A caatinga cor de cinza,
Duvido não ter parado
Pra ficar olhando o verde
Do juazeiro copado.
E sair dali pensando:
Como pode a natureza
Num clima tão quente e seco,
Numa terra indefesa
Com tanta adversidade
Criar tamanha beleza.
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Lourival Batista Patriota:
Nem tudo que é triste, chora,
Nem tudo que é alegre, canta,
Nem toda comida é janta,
Nem todo velho se escora,
Nem toda moça namora,
Nem todo amor é paixão,
Nem toda prática é sermão,
Nem tudo que amarga é lima,
Nem todo poeta rima,
Nem toda terra é sertão!
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Manoel Xudu:
Neste mundo não há maior ciência
Do que ver uma aranha se bulindo
Com perícia maestra construindo
Alicerces da sua residência .
É pequena , tem pouca resistência
Mas trabalha vencendo os empecilhos
Superando carrascos e caudilhos
Que assassinam , devoram , fazem guerra
Mas não cavam sequer barro na terra
Pra fazer um casebre pra seus filhos.
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José Monte:
É bonito se olhar numa represa
A marreca puxando uma ninhada
Com um gesto de mãe tão dedicada
No encontro das águas da represa
Quanto é lindo o arrolho da burguesa
Num conserto de notas musicais
A lagarta com letras naturais
Numa folha escrever fazendo um cheque
E palmeira selvagem abrindo o leque
Espantando o calor que a tarde faz.
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Catarine Aragão:
Eu vim trazendo o desgosto
Da morte de um sonho lindo
Com o pranto banhando o rosto
Que outrora viveu sorrindo
Vim arrastando os meus passos
Pra ver se junto os pedaços
De um peito sem alegria
Vim com a alma abatida
Querendo encontrar guarida
Nos braços da poesia.
Eu vim procurar motivo
Pra querer seguir em frente
E vim tentar manter vivo
O amor que meu peito sente
Vim cercada de tristeza
Querendo ter a certeza
Que nem tudo está perdido
Vim com todo sacrifício
Pra despejar meu suplício
Dentro de um verso sofrido.
Eu vim fazer o meu pranto
Achar consolo na rima
E vim pra ver se levanto
Um pouco minha autoestima
Com a alma pedindo tréguas
Eu vim cansada de léguas
Buscando paz e abrigo
Dentro de um mundo perverso
Fazendo o meu próprio verso
Me servir de ombro amigo.
Eu vim procurar meu eu
Entre os escombros do peito
E achar o que se perdeu
Pra ver se ainda tem jeito
Vim pelas desilusões
Tristezas e frustrações
Que me mantém inquieta
Buscar a minha poesia
Porque só ela alivia
Meu coração de poeta!
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Poeta José Luiz:
Estou igual um bacurinho
Preso dentro de um chiqueiro
O comer que a dona bota
É folha de marmeleiro
Esperando que ele engorde
Pra lhe passar no dinheiro.
Estou igual um jumento
Debaixo de uma cangalha
Quando o seu dono é malvado
O dia todo trabalha
E quando chega de noite
Lhe nega um feixe de palha.
Estou igual uma gata
Na frente de um cachorro
Ela correndo e miando
Como quem pede socorro
Se ela falasse dizia
Me acuda senão eu morro!