Geraldo Amâncio, grande cantador contemporâneo, e o saudoso Patativa do Assaré
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Geraldo Amâncio
Patativa tinha o brilho
da luz de um meteorito;
um homem que virou gênio,
um gênio que virou mito;
um cantador de roçado
que foi por Deus convocado
pra cantar no Infinito.
Patativa do Assaré
Sertão, argúem te cantô,
Eu sempre tenho cantado
E ainda cantando tô,
Pruquê, meu torrão amado,
Munto te prezo, te quero
E vejo qui os teus mistéro
Ninguém sabe decifrá.
A tua beleza é tanta,
Qui o poeta canta, canta,
E inda fica o qui cantá.
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Otacílio Batista
No romper da madrugada,
Um vento manso desliza,
Mais tarde ao sopro da brisa,
Sai voando a passarada.
Uma tocha avermelhada
Aparece lentamente,
Na janela do nascente,
Saudando o romper da aurora,
No sertão que a gente mora
Mora o coração da gente.
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João Paraibano
Quando o dia começa a clarear
Um cigano se benze e deixa o rancho
A rolinha se coça num garrancho
Convidando o parceiro pra voar
Um bezerro cansado de mamar
Deita o queixo por cima de uma mão
A toalha do vento enxuga o chão
Vagalume desliga a bateria
Das caricias da noite nasce o dia
Aquecendo os mocambos do sertão.
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Zito Siqueira
Mulher, se lembre das juras
Que fizemos na matriz;
Se esqueça de advogado,
De promotor, do juiz,
Se acostume a levar ponta
Pra gente viver feliz.
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Zé da Prata
Se vejo mulher bonita,
Meu corpo ainda se bole.
Mas sei que já estou velho,
É melhor que me console…
De que serve eu ter desejo,
E a correia assim tão mole?
E a correia desse jeito
O priquito não engole;
Mesmo botando a cabeça
Tirando a mão escapole.
E não posso dessa forma
Fazer mais o bole-bole.
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Dimas Batista Patriota
Existe quem diga que as lindas sereias
São fatos, são lendas que nunca existiram
Mas esses só dizem porque nunca viram
Morenas bonitas nas alvas areias
Maiôs sungadinhos, perninhas bem cheias
Que um frade de pedra não vê sem corar
As pontas agudas roliças de um par
De seios pulando num colo maciço
São pomos formados de puro feitiço
Quem é que resiste na beira do mar.
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Zé Bernardino
Eu nada fiz na jornada
Nada ganhei nem perdi
Nada ignoro do nada
Porque do nada nasci.
Se o nada foi um abrigo
Seja o nada meu jazigo
Pois nada disso me enfada.
Eu de nada fiz estudo,
Mas sei que o nada faz tudo
E tudo se torna em nada.
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José Alves Sobrinho
Jorram as águas do rio,
E elas como uma cobra,
Num andar lento e macio,
Descendo e fazendo dobra,
Derramam sobre o baixio
A quantidade que sobra.
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Lourival Pereira
Eu cheguei um dia na beira do cais
Admirei muito o seu movimento
Navios fazendo descarregamentos
Pacotes maneiros, pesos desiguais
De dez toneladas, de vinte e de mais
E a um marinheiro peguei perguntar
De onde é que vem pra descarregar
Ele disse: da Bélgica, Egito e Hungria
Da Síria, da Pérsia, da Angola e Turquia
Trazendo isso tudo pra beira do mar.
Expedito Sobrinho
Perguntei o nome da mercadoria
Ele disse aqui a gente traz de tudo
Mostarda estrangeira que o grão é miúdo
Petróleo, amianto e tapeçaria
Pedras preciosas que o povo aprecia
Brilhante , ametista pra fazer colar
Ouro português pra quem quer comprar
Pedra opala e amazonita
Berilo, ouro branco, prata e tantalita
Pra fazer negócio na beira do mar