Toda chuva que vem leva um pedaço
Da tapera a herança dos meus pais.
Mote de Antônio Poeta
O poeta Marcílio Pá Seca Siqueira, pernambucano de Tabira, desenvolvendo o mote acima, enviou-me a seguinte glosa:
Casa velha de taipa abandonada
Já não és tão bonita como era
Nem de longe tu lembras a tapera
Que serviu pra meu povo de morada
Vejo o tempo cruel dando pancada
Na madeira ruída dos portais
Os morcegos pousando nos frechais
Cada qual ocupando seu espaço
Toda chuva que vem leva um pedaço
Da tapera a herança dos meus pais.
Este colunista, acaryense do Seridó Potiguar, respondeu-lhe com duas glosas no mesmo estilo.
Ei-las:
A madeira que um dia pai subiu
Para ser o sustento do telhado
Sobre o chão é somente um pau quebrado
Sob o pó do telhado que caiu.
A coluna do centro se partiu
Arrancaram as portas dos umbrais
Nem a cor das paredes se vê mais
Do reboco não resta nenhum traço
Toda chuva que vem leva um pedaço
Da tapera a herança dos meus pais.
Sem soltar dessa velha cumeeira
Com as pontas olhando para o alto
Num lugar muito triste de ressalto
Restam só alguns tocos de madeira.
Nos tijolos da frente a trepadeira
Já subiu agarrando por detrás
Se expandiu pelas partes laterais
Sufocou a casinha nesse abraço
Toda chuva que vem leva um pedaço
Da tapera a herança dos meus pais.