GILBERTO AMADO
Crispiniano Neto
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Quero que as musas me inspirem
Na arte de cordelista,
Para descrever a história
De um político e jornalista,
Professor e diplomata,
Bom poeta e romancista!
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Falo de Gilberto Amado,
Um sergipano da gema
Que brilhou no mundo inteiro
Tendo o saber como lema;
Foi um campeão na prosa;
Foi bem melhor no poema!
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Era Gilberto de Lima
Azevedo Souza Ferreira
Mais Amado de Farias,
Diplomata de primeira
Que se foi grande no nome
Foi bem maior na carreira.
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Nasceu em 07 de maio,
No ano de oitenta e sete,
O século era dezenove
E morreu em 27
De agosto de meia nove
Conforme deu na manchete.
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Na cidade de Estância
Lá no solo sergipano
No extremo sul do Estado
Perto do solo baiano
Gilberto Amado nasceu
Pra de Deus cumprir um plano.
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Foi primeiro dos quatorze
Filhos de um casal decente:
Melchisedech e Ana,
Exemplo de boa gente,
Que logo que viu que o menino
Era vivo e inteligente.
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Fez os estudos primários
Numa cidade vizinha
Por nome de Itaporanga,
Onde boa escola tinha;
Depois seguiu pra Bahia
Pra seguir na mesma linha.
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Ali estudou Farmácia,
Mas viu que não tinha jeito
Para pipeta e proveta,
Reação, causa e efeito...
Partiu para Pernambuco
Onde foi cursar Direito.
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Mesmo ainda como aluno
Já mostrou muito sucesso
Chegou a ir pra São Paulo
Representar, num Congresso,
Os seus colegas de curso
Que nele viram progresso.
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Seu discurso progressista,
Sua mente especial,
Sua sensibilidade,
Seu currículo magistral
Tornaram-lhe catedrático
Para o Direito Penal.
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Logo ao terminar o curso
Que concluiu com louvor,
Aplaudido por colegas
Bem visto pelo reitor,
Mudou direto de lado
De aluno pra professor.
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Foi um professor brilhante,
Pois da matéria sabia.
Também sacava de História,
De Arte e Filosofia
Era um mestre em transmitir,
Bamba na Pedagogia!
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E então como professor
Não ficou no trivial
Expandiu os seus saberes
Do modo mais genial,
Se transformando de fato
Num intelectual!
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E já no ano de 10
Foi pra o Rio de Janeiro.
Para o Jornal do Comércio
Fez seu trabalho primeiro
Falando em Luís Delfino,
Victor Hugo brasileiro.
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Se bem que ele já tinha
Começado em Pernambuco
Aonde escutou o último
Dos discursos de Nabuco
E trouxe para seu texto
Da cana o doce do suco.
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Em 05 já escrevia
A secção "Golpe de Vista",
Em torno à obra de Nietsche
Provou ser bom polemista.
Escreveu artigo e ensaio
E provou ser bom cronista.
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Para o "Jornal do Comércio"
No Rio escreveu primeiro
Para o "Mundo Literário"
"O País", "Época", "O Cruzeiro"
E em jornais de São Paulo
Também mostrou seu roteiro.
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N'O Estado de São Paulo'
Foi lido em todo o Brasil,
N'O Correio Paulistano'
Pôs seu texto varonil
E ás vezes até usava
O pseudônimo Áureo ou Gil.
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Mil, novecentos e doze,
À Europa viajou
Viu de perto a Belle Époque,
Com grandes crânios sentou.
Nas fontes do Modernismo
Bebeu, comeu e saldou.
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Em 13 chegou de volta,
E pra mostrar sapiência
Foi ao Jornal do Comércio
Pronunciou conferência
Que mostrou sua grandeza,
Seu talento e inteligência.
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Depois publicou em livro
Tudo quanto relatou:
"A Chave de Salomão"
Logo em 13 publicou
E ainda "Outros Escritos"
Ao seu livro acrescentou;
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Em 15 ele foi de volta
Para o seu torrão natal
Candidatou-se, elegeu-se
Deputado federal,
Projetou-se no cenário
Da política nacional.
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Na câmara, belos discursos
Cresceram seu cabedal,
Falou de instituições
Da política federal
E descreveu, do Brasil,
Nosso Meio Social.
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E por ter se consagrado
Parlamentar de respeito,
No ano de 17
Conseguiu ser reeleito.
Vinte e um e Vinte e quatro,
Ganhou sempre em todo pleito.
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Em 26 deu um tempo
Na política radical
Pra ser diretor da Caixa
Econômica Federal
E em 27 elegeu-se
Pra o Senado Nacional.
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Já como parlamentar
Entrou no mundo que quis;
Falando de relações
Externas deste País
E indo a reuniões
Em Berlim, Roma e Paris!
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Chegando a República Nova
Encetou nova conquista,
Deu um tempo na política
Foi chamado a ser jurista,
Deu cursos, formulou leis
Tendo visão de estadista.
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No ano de 34
Chegou onde mais queria
Para o Itamaraty
Foi prestar consultoria
E entrou de vez no seu mundo
Feliz da Diplomacia.
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Sucedeu a Bevilacqua
Que foi um grande causídico
E assim, da Política externa,
Tornou-se assessor jurídico
Mostrando que seu talento
Era completo e verídico.
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Evoluiu muito rápido
Pois do lugar de assessor
Em 36 assumiu
O cargo de embaixador
Onde mostrou seu talento
Pra ser negociador.
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Do ano de 39
Ao ano 47
Foi ministro na Finlândia
Fazendo o que lhe compete
E o mesmo êxito de sempre
Na Finlândia se repete.
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E logo em 48
Ele sentou-se no trono
Da carreira diplomática...
De uma cadeira foi dono
Na Comissão de Direito
Internacional da ONU.
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Já que Genebra era a sede
Desta nobre comissão
Foi residir na Suíça,
Deu grande contribuição
Ao Direito entre os países
Com muita publicação.
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Não perdeu uma sessão
Da Assembleia Geral
Da ONU, em Nova Iorque,
Desde aquela inicial,
Até a última em que pôde
Botar seus pés no local.
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Somente em 68
Parou de comparecer
E o seu saber jurídico
Nunca deixou de exercer.
Direito Internacional
Passou a vida a escrever.
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Os "Direitos e Deveres
Dos Estados", foi legal,
"Definição de Agressão"
E até "Processo Arbitral",
"Reservas às Convenções..."
Da lei multilateral.
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Foi embaixador no Chile
E na Itália também,
Cumpriu missão na Argentina
Lá se saiu muito bem
E em leis internacionais
Nunca perdeu pra ninguém.
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Presidiu a Comissão
"Diplomacia e Tratados",
Os seus pareceres técnicos
Foram os mais abalizados
E mesmo depois de décadas
Ainda são consultados.
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Do Barão do Rio Branco
Ele herdou o pacifismo.
Herdou de Bolívar, o sonho
De Pátria Grande e heroísmo
Pra consolidar as bases
Do Pan-americanismo.
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Forjou todo o ideário
Da Pátria América Latina
Desde as ilhas caribenhas
À extremidade sulina
Cuba, Guianas, Peru,
Brasil, Chile e Argentina.
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América de Zé Martí,
De Atahualpa e Guevara,
De Sandino e Tiradentes
De Zumbi, de Victor Jara,
De Farabundo e Allende
Sem águia que nos separa!
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Um pan-americanismo
Com fronteiras sem alertas
Com o portunhol congregando
Tantas culturas libertas
Sem Batman e Drácula sugando
As nossas veias abertas!!!
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No pós-guerra ele assumiu
Elevadíssimas missões;
Demonstrou grande prestígio
Logo em duas comissões
E foi delegado na
Conferência das Nações.
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Essa grande conferência
Foi feita pra se estudar
Qual o poder das nações
Sobre o Direito do Mar
E foi aí que Gilberto
Conseguiu mesmo brilhar.
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Defendia que o direito
Do Estado nacional
Sobre o mar devia ser
Não somente horizontal
Mas também devia ter
Um sentido vertical!
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O Mar territorial
E também o Alto Mar;
Direito a pesca e minérios
À defesa, ao navegar,
Também aos fundos marinhos
E aos céus do mar pra voar!
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Amado sempre dizia
Que neste embate tão duro
Entre o academicismo
E o direito prático e puro
Tinha que ver-se o interesse
Das nações e seu futuro!
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Mas defendia também
Que interesses e ambições
Dos estados não turvassem
As modernas intenções
De forjar civilidade
Pra o futuro das nações!
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Normalmente os diplomatas
Com décadas no estrangeiro
Acabavam se esquecendo
Do jeitinho brasileiro
De ser feliz, ser alegre,
Espontâneo e inzoneiro.
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Mas Gilberto Amado, não.
Sempre voltava ao País,
Por aqui lançava livros,
Brincava e pedia bis
Sem jamais perder a ginga...
Sem medo de ser feliz!
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Transformou-se em grande mito
Com mil estórias contadas
Das anedotas, das lendas,
Das ações inusitadas,
Dos ditos espirituosos,
Das saborosas tiradas!
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Sempre que vinha ao Brasil
Um novo livro lançava;
Sua fama merecida
Crescia e multiplicava
Mas suas lendas e o mito
Cada vez mais se firmava.
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Foi bom na prosa e no verso,
No romance e na memória,
Na crônica se destacou,
No ensaio alcançou glória
E em tudo quanto escreveu
Pôs sentimento e história!
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Como escritor produziu
"A Chave de Salomão",
"Grão de Areia" e "Dias
E "Horas de Vibração",
"Espírito do nosso tempo",
Também "Suave Ascenção",
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"Inocentes e Culpados"
"Interesses da companhia",
Sobre "Assis Chateaubriand"
Escreveu com maestria
Na "Dança sobre o Abismo",
Memórias e Poesia.
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Na redação do Direito
Teve visão analítica
Descreveu muitas minúcias
Do vendaval da política
E em tudo que produziu
Pôs a visão lírica e crítica!
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Maledicência, entreveros,
Valentões pernambucanos,
Amores, paixões platônicas,
O atraso daqueles anos,
Os sonhos da juventude
E o poder dos veteranos.
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Foi quem melhor descreveu
A capital nordestina
Do que sobrou das senzalas
Da Casa Grande assassina,
Dos homens e caranguejos...
Vida e morte Severina.
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Foi Gilberto um homem manso,
Mas também foi agitado.
Nunca levou desaforo
Pra dentro do lar sagrado,
Por isso é que ele foi tanto
Amado quanto odiado!
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No acordo, um lorde inglês,
No agito era um Nabuco;
Às vezes, filósofo sóbrio;
Por vezes, gênio maluco;
Exímio, esgrimindo ideias;
Fatal, usando um trabuco!
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Esse era Gilberto Amado,
Dono de todos conceitos;
Se foi bom na fala mansa
Foi melhor metendo os peitos...
Um ser humano completo
Em qualidade e defeitos!
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Seu nome ficou marcado
Na nossa diplomacia,
Nosso país deve muito
À sua categoria
E à competência mostrada
Em tudo quanto fazia!
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Foi amigo dos amigos;
Brasil foi sua paixão;
Amado amou a si próprio
Bem mais amou à nação,
Irmão da América Latina,
Pai de um mundo mais irmão
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Que a memória de Amado
Nosso Brasil possa amar;
Que Gilberto esteja perto
Do Brasil que vai chegar;
Que os jovens possam seguir
Sua carreira exemplar!!!