GILBERTO ALVES E A SERESTA
Raimundo Floriano
Gilberto Alves Martins nasceu no bairro da Saúde, no Rio de Janeiro (RJ), no dia 15.4.1915, e faleceu em Jacareí (SP), no dia 4.4.1992, aos 76 anos de idade.
Criado no subúrbio de Lins de Vasconcelos, aos 12 anos fugiu de casa com o irmão mais velho e arranjou emprego como carregador de marmitas, passando a viver desse serviço. Mais tarde, aprendeu o ofício de sapateiro, ao qual passou a dedicar-se por conta própria. Paralelamente, cursava o Secundário e iniciava-se no ambiente musical, participando serestas. Nessa época, conheceu Jacob do Bandolim, então garoto, que viria a ser seu grande amigo.
Aos 16 anos de idade, começou a frequentar os cabarés da Lapa e o Café Nice, travando conhecimento com Grande Otelo e Sílvio Caldas. Por volta de 1935, as serestas começaram a ser proibidas, e a Guarda Noturna dissolvia os grupos seresteiros que encontrava. Foi quando Gilberto conheceu Almirante que, depois de ouvi-lo cantar, o convidou para se apresentar na Rádio Clube do Brasil, onde ele começou a se apresentar, mas sem contrato, recebendo apenas pequeno cachê.
Passou, depois, a atuar na Rádio Guanabara, no programa de Luís Vassalo, para onde fora levado pelos compositores Christóvão de Alencar e Nássara, que conhecera numa seresta em Vila Isabel. Cantou também na Rádio Educadora, no programa dos Irmãos Batista – Marília e Henrique –, atuando paralelamente em outras emissoras.
Em 1938, aos 23 anos de idade, gravou seu primeiro disco, com os sambas Mulher, Toma Juízo, de Ataulfo Alves e Roberto Cunha, e Favela dos Meus Amores, de Roberto Cunha, pela Columbia. Conheceu, então, os compositores Roberto Martins e Mário Rossi, gravando seu segundo disco, com o samba Mãos Delicadas, dos dois, e a valsa Duas Sobras, de Roberto e Jorge Faraj. Daí em diante, gravou diversos sucessos da dupla Roberto Martins e Mário Rossi, entre os quais seu primeiro êxito em disco, a valsinha Trá-lá-lá, pela Odeon, em 1940. A seguir, vieram outros grandes sucessos, como Natureza Bela, samba de Felisberto Martins e Henrique Mesquita, em 1941, a marchinha Cecília, de dupla Martins e Rossi, e o foxe Adeus, dos mesmos autores, ambos em 1944.
Ainda em 1944, gravou os foxes Despedida, de Tito Ramos, e Algum Dia Te Direi, de Christóvão de Alencar e Felisberto Martins. Em 1948, deixou a Odeon e assinou contrato com a RCA Victor, gravando o samba Rosa Maria, de Aníbal Silva Éden Silva, um dos grandes sucessos do Carnaval daquele ano, passando a trabalhar também na Rádio Nacional.
Em 1949, casou-se com Jurema Cardoso. Em 1950, transferiu-se para a Rádio Tupi, onde permaneceu até 1970, quando se aposentou.
Sua vitoriosa carreira amealhou sucessos como os sambas Pombo Correio, de Benedito Lacerda e Darcy de Oliveira, Recordar É Viver, de Aldacir Louro e Aluísio Martins, De Lanterna na Mão, de Elzo Augusto e J. Saccomani, Abre a Janela, de Arlindo Marques Jr. e Roberto Roberti, Isaura, de Herivelto Martins e Roberto Roberti, Chorar Pra Quê?, de Pereira Matos e Oldemar Magalhães, e Jorge Martins, Graças a Deus, de Roberto Martins e Oswaldo Santiago, O Trem Atrasou, de Artur Vilarinho, Estanislau Silva e Paquito, Recordar, de Aldacir Louro, Aluísio Marins e Adolfo Macedo, Rosa Maria, de Aníbal Silva e Éden Silva, Última Chance, de Roberto Martins e Mário Rossi, e as marchinhas A Jardineira, de Benedito Lacerda e Humberto Porto, Aurora, de Mario Lago e Roberto Roberti, e Carolina, de Hervê Cordovil e Bonfiglio de Oliveira, além dos já citados.
Sua discografia é bem extensa, registrando 199 títulos e englobando todos os ritmos da MPB. Em meu acervo, possuo, só nos gêneros marchinha e samba carnavalesco, 109 faixas por ele gravadas. A seguir, capas de alguns de seus álbuns:
Seus LPs são encontráveis com facilidade nos sebos virtuais. Ele morreu numa época em que o CD era a moda, por isso, em vida, não conheceu essa fase tão lucrativa do comércio fonográfico. A Editora Revivendo, maior preservadora da Discografia Brasileira, conserva em seu catálogo diversas coletâneas de Carnaval, nas quais Gilberto é um dos principais intérpretes, além de vários títulos individuais.
Mesmo depois de aposentado, continuou ele atuando em várias emissoras de rádio e televisão, assim como em casas de shows e em espetáculos montados com a Velha Guarda da Música Popular Brasileira.
Seus últimos anos de vida foram passados em cidades do Interior Paulista, primeiro em Cesário Lange e, mais tarde, em Jacareí, onde veio a falecer.
Em 1941, quando se falava na Segunda Guerra Mundial, que estourara na Europa, ficaram comuns os sambas-exaltação, que nós, as crianças balsenses, aprendíamos e cantávamos com grande fervor, como Natureza Bela, de Felisberto Martins e Henrique Mesquita, com que Gilberto Alves nos maravilhou.
Na segunda metade de 1945, acabada a Guerra, passou lá por Balsas uma trupe de comediantes, que se apresentou no Salão da Prefeitura. Havia dois palhaços, o Zé Gaiola e o Picolé, cujas paródias, todas picantes, iniciaram a formação de meu repertório circense. Também havia uma exuberante e linda sambista, a Marquise Negra que, cantando e requebrando, nos mostrou pela primeira vez o samba Última Chance, de Roberto Martins e Mário Rossi, gravado por Gilberto Alves no começo do ano, o qual se incorporou ao acervo dos sambas que canto até hoje. Detalhe hilário era quando Marquise Negra cantava “tens o corpo marcado, e eu sei o motivo” e apontava para algum homem casado e raparigueiro da cidade, fazendo a plateia cair na gargalhada. Vamos ouvi-lo:
Esse e mais 14 faixas serão mostradas agora, para que vocês tenham ideia de seu imenso repertório seresteiro.
Mulher, Toma Juízo, samba de Ataulfo Alves e Roberto Cunha, de 1938:
Favela dos Meus Amores, samba de Roberto Cunha, de 1938:
Mãos Delicadas, samba de Roberto Martins e Mário Rossi, de 1938:
Duas Sombras, valsa de, Roberto Melo e Jorge Faraj, de 1938:
Natureza Bela, samba de Felisberto Martins Henrique Mesquita, 1941:
Adeus, foxe de Felisberto Martins e Mário Rossi, de 1944:
Algum Dia Te Direi, foxe de Christóvão e Alencar e Felisberto Martins, de 1944:
Rosa Maria, samba de Aníbal e Éden Silva, de 1948:
Última Chance, samba de Roberto Martins e Mário Rossi, de 1945:
Uma Grande Dor Não Se Esquece, valsa de Ernani Campos e Antenógenes Silva - 1940:
Gosto Que Me Enrosco, maxixe de Sinhô, composto em 1929:
Fascinação, valsa de F. D. Marchetti e Mário Rossi, de 1958:
Santa Terezinha, valsa de Antenógenes Silva, de 1943:
Se Amar É Pecado, samba de Raymundo Olavo e Silva Júnior, de 1950:
Pombo Correio, samba de Benedito Lacerda e Darcy de Oliveira, de 1943: