As tardes de domingo na Rádio Jornal do Commercio, durante o “Programa Ernani Seve”, para mim eram a atração maior dos tempos de juventude. Inesquecíveis, e acredito, para todos aqueles que viveram a década de 1950.
Como eu já praticava o jornalismo profissional naquela rede de Comunicação, (Caderno de Domingo do Jornal do Commercio) era-me permitido transitar pelos corredores da Rádio com certa facilidade.
Um dos momentos mais agradáveis era o “Programa Ernani Seve”. Não que tivesse ele a voz de um Luiz Jatobá, mas havia em sua pessoa uma encantadora educação que se observava, no trato com os artistas e nas brincadeiras com o auditório. Era u’a uma pessoa muito atraente.
Uma de suas peculiaridades era manter os apelidos que corriam nos bastidores e acabavam se tornando marcas-registradas de alguns:
– E agora vamos apresentar: “Mimi Castilho”, nossa querida Almira do Amorim Castilho!…”
O modelo deu tão certo que ele se referia aos mais conhecidos até no palco, não pelos nomes dos registros, mas sim pela identidade artística.
Às vezes se fazia de distraído – mesmo com Dr. Pessoa de Queiroz no auditório – e soltava os apelidos: Mimi Castilho, Jackson do Pandeiro, Camarão, Chocolate, Gordurinha.
Mas certa tarde se atrapalhou quando foi anunciar uma cantora que estava em experiência:
– Ouçamos agora, com o Regional de Luperce Miranda, uma cantora que estamos lançando e deverá ser um sucesso: Maria Daidece. Na verdade o nome da pobre moça era Maria da Daidescena, um nome meio estrambólico, mas ele se atrapalhou com o papelzinho que lhe passaram de última hora, e na pressa, pronunciou: “Maria Dá e Desce”.
Foi um “buruçu” dos infernos pelos corredores, pois sabia-se que a candidata, sendo “ratazana de auditório,” vivia em busca da fama. Por isso, “facilitava alguns amassos” com os “influentes” da emissora, segundo noticiava a “Rádio Peão”.
Mas, como seu nome não ajudava o Produtor do programa, – malandro todo – resolveu dar-lhe um “empurrão” rumo ao estrelato, mesmo correndo o risco de avacalhar a situação do Apresentador.
Fez a “adaptação”, numa tarde em que Dr. Pessoa não comparecera. Chegada a hora, tendo um cantor faltado ao programa, quase empurrou a jovem. E a pobre ganhou o apelido de “Maria dá e desce”. Uma alcunha que remete ao velho ditado: “Ou dá ou desce!”. O episódio ficou na história do Rádio.
Certa feita Ernani Seve meteu-se em outra, registrando para sempre alcunha, que se tornou nome artístico. De tanto assim proceder, animou-se, e no palco, anunciou, pelo apelido, o maestro da orquestra, legitimando seu nome mais conhecido, que ultrapassou o espaço radiofônico, tornando-se carinhosamente conhecido entre a família e os amigos.
Foi assim:
– E agora, na enternecedora voz de Antônio Laborda ouviremos a canção “Maria Betânia”, de Capiba, acompanhado pela Jazz Paraguary, sob o comando do Maestro Timoschenko.
A inquietação foi de tal ordem que Dr. Pessoa lhe indagou, dias depois, no gabinete da diretoria, se ele sabia de onde vinha aquele apelido. E naturalmente não sabia, mesmo porque não foi ele quem “batizou” Lula com o nome do general russo Semion Timoschenko, herói da II Guerra Mundial.
Luiz Caetano, competente maestro pernambucano, de fato, era muito parecido com o general. Os rostos, quase iguais. Assim, Timoschenko tornou-se emblema. Nome de General e hoje desfruta tranquilo sua aposentadoria dedilhando seu sax no terraço de casa.
Maestro Luiz Caetano, o “Timoschenko” do Recife