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O servidor público Luís Renato Dias, 55 anos, prioriza a alimentação orgânica há cerca de três anos |
Quando o assunto é alimentação saudável, é preciso ir além do prato colorido, cheio de frutas e verduras. A forma como o produto é produzido também tem sido um fator levado em consideração pelos consumidores. Nessa aposta, as produções naturais, livre de defensivos agrícolas é a nova opção favorita. Com o objetivo de melhor esclarecer sobre o assunto, hoje, inicia-se a Semana do Alimento Orgânico no Distrito Federal, que faz parte da Exposição Agropecuária de Brasília (Expoabra), e segue até sábado, em formato digital (veja Programação).
A iniciativa, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), acontece anualmente em todo o país e tem como objetivo informar e esclarecer dúvidas de consumidores, além de apresentar produções orgânicas. Neste ano, o tema será “Alimento orgânico: sabor e saúde em sua vida”, com o intuito de ressaltar os benefícios do alimento orgânico na promoção da saúde, na segurança alimentar e nutricional, bem como o sabor e o aproveitamento integral dos alimentos, aliado ao respeito ao meio ambiente e à justiça social.
A tendência, para os próximos anos, é de que cada vez mais pessoas façam adesão a esse tipo de produto, conforme explica Daniel Oliveira, gerente do escritório especializado em agricultura orgânica e agroecologia da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF). Um exemplo, de acordo com ele, é a Comunidade que Sustenta a Agricultura (CSA), que por meio de uma cota fixa mensal, os coagricultores (antigos consumidores) recebem uma caixa semanal ou quinzenal de produtos agrícolas, como frutas, verduras, legumes, ovos, leite e o que mais estiver combinado com o agricultor. Tudo de acordo com a estação e com a safra do período, respeitando os tempos da natureza e também do produtor.
“É uma tendência. Essa proximidade do produtor com o consumidor tem feito com que muitos que antes não tinham interesse, comecem a comprar e priorizar produtos orgânicos”, diz Daniel. Segundo o gerente, outro fator que ajuda o aumento do consumo é a produtividade do DF. “De forma geral, está entre as mais altas do país. Grande parte deve ao trabalho de assistência que a Emater faz, acompanhando o produtor que começa a fazer parte desse universo. Segundo os dados da empresa, o DF tem 257 produtores orgânicos certificados. Em 2019, havia 512,0477 hectares de área plantada com produtos orgânicos. Em 2020, o espaço subiu para 598,3689 hectares, mostrando que a busca pelos orgânicos tem aumentado ano a ano.
Prioridade
O servidor público Luís Renato Dias, 55 anos, começou a priorizar a alimentação orgânica há cerca de três anos. De acordo com ele, o interesse surgiu após ele ler mais sobre o assunto. “Me chamou a atenção as reportagens falando sobre o nível de consumo de agrotóxico no Brasil, por pessoa. Automaticamente, começamos a procurar formas de se livrar um pouco desse consumo excessivo”, diz. Alérgico ao leite e derivados, e tomate, Luís explica que, ao iniciar o consumo de orgânicos, percebeu que a reação era diferente. “Não sei se há algum estudo, observei de forma empírica. Mas percebi que, ao me alimentar do tomate, ou leite, sem conservante, quase não tinha reação, e vi que valia a pena.
Além da melhora no quadro alérgico, Luís diz que a família passou a ter mais segurança alimentar. “Quando você passa a consumir alimentos orgânicos, têm acesso a quem é responsável pela produção. Você sabe a origem, acompanha o processo e oferece à família um produto de melhor qualidade”, pontua. Além disso, o servidor explica que, apesar de os produtos serem mais caros, houve um benefício a médio prazo. “Eu reduzi a quantidade de medicamentos em casa, e não só pelo meu problema de saúde, mas remédios de dor de cabeça e corporal. Então, vale a pena optar por produtos mais sustentáveis”, complementa.
A professora Edilene Carneiro, 53, também faz parte do grupo de pessoas que decidiu melhorar a qualidade de vida por meio da alimentação. Para isso, ela montou a própria horta, em casa, livre de agrotóxicos. “Sempre sonhei em ter minha hortinha, mas nunca tive tempo hábil. Foi quando me aposentei, em 2019, que consegui começar esse projeto. Gosto muito de temperos aromáticos e comecei com isso. Daí, depois veio o tomate, a couve, e por aí foi”, conta. Moradora da Candangolândia, Edilene juntou a vontade de comer coisas sem agrotóxico com a proatividade, e começou a estudar para conhecer mais do assunto. “A maior dificuldade para começar foi a falta de aprendizado. A gente precisa saber a época de plantar, como regar, quantas sementes. Procurei na internet e aprendi”, conta.
Agrotóxicos
De acordo com a nutricionista Daniela Vitória Teixeira Nascimento, do Hospital Santa Lúcia Sul, discutir hábitos alimentares e os benefícios dos orgânicos é de fundamental importância para a saúde. “Atualmente, o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Alguns estudos comprovam os malefícios para a saúde humana e ambiental da exposição aos agrotóxicos”, pontua. A especialista explica que tal exposição pode causar uma série de doenças. “Depende do produto que foi utilizado, do tempo de exposição e quantidade de produto absorvido pelo organismo, podendo provocar reações alérgicas, respiratórias, distúrbios hormonais e até problemas mais sérios. Porém, até hoje não foram monitoradas exposições por um longo período de tempo e como o ser humano está exposto a múltiplos fatores, ainda não é algo bem documentado”, lamenta.
Daniela explica que os alimentos orgânicos se destacam pela baixa toxicidade e maior teor de nutrientes, além de apresentarem quantidades reduzidas de nitrito e nitrato comparados aos inorgânicos. “Os orgânicos não possuem substâncias fortes, que são prejudiciais à saúde. Os solos em que são produzidos são balanceados com adubos naturais, e, por ser uma produção sem fertilizantes, o sabor não é alterado”, garante.
Programação
Acompanhe as atrações da Semana do Alimento Orgânico em: https://expoabra.com.br.