RIO — Claude Troisgros foi o primeiro chef de cozinha a entrar nas casas brasileiras. O ano era 2004, e o programa, o extinto “Armazém 41”, que trazia o quadro “Adivinha o que tem para jantar?”, no GNT. Como uma bomba de fumaça ninja, Troisgros fez o clichê de francês esnobe desaparecer a jato. O sotaque carregado passou de empecilho a tempero extra. De lá para cá, o cardápio comandado pelo chef só aumentou. Foram seis programas de TV, incluindo “The taste Brasil” e a série “Que marravilha!”, que deu filhotes como a versão infantil do show. Todos, sempre em canal fechado.
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Quinze anos depois, o franco-carrrrioca, que esperava ficar apenas uns dias no Rio e já está aqui há quatro décadas, se aventura na TV aberta, à frente do primeiro reality dedicado exclusivamente à gastronomia na Globo . “Mestre do sabor” estreia nesta quinta-feira, logo após a novela “A dona do pedaço”, e vai ao ar toda quinta.
Dividindo o manche está João Batista, seu fiel escudeiro das panelas e dos estúdios. E, completando o elenco, três astros da gastronomia atual: a carioca Katia Barbosa, o mineiro Léo Paixão e o português José Avillez . Fora dali, o programa ganha conteúdos extras no Gshow, na Globo Portugal e também no GNT, onde será exibido um dia depois, com 20 minutos a mais.
No primeiro episódio, 50 cozinheiros profissionais disputam 24 vagas. Serão seis etapas, até a grande final, no dia 26 de dezembro. O vencedor levará um prêmio de R$ 250 mil. A seguir, Claude Troisgros dá detalhes do programa.
O que o programa tem de diferente dos outros?
A pegada é totalmente Brasil, valorizando ingredientes nacionais, como maxixe, quiabo, goiaba. Vamos do tucupi ao churrasco, da moqueca à galinhada e à carne seca com abóbora. É um formato original, menos dramático, mais educativo.
Queremos criatividade, mas respeitando a tradição. O tutu à mineira, por exemplo, é um prato clássico, rústico e regional que pode ser feito de forma diferente, com um produto melhor.
A degustação dos pratos é feita às cegas. Isso aumenta a adrenalina?
Avaliar um prato somente pelo sabor, sem saber quem preparou, nem como ele foi feito, tem um lado de verdade muito forte. Isso dá credibilidade ao programa.
Tem algum truque de bastidor que o público não vê?
Não, foi uma das coisas que eu fiz questão de não ter. Não sou ator. Os jurados experimentam exatamente o que os competidores fizeram, da forma que eles entregaram.
Todos os participantes são profissionais, já têm uma carreira. Você se arriscaria numa empreitada assim?
Se eu fosse jovem, diria que sim. Hoje não dá mais para mim ( risos ).
Nestes 15 anos, o que mudou na gastronomia com os programas de TV?
A gastronomia brasileira evoluiu de uma maneira inacreditável. E os programas de TV contribuíram para essa nova cozinha, que valoriza o produto local, o produtor, o cozinheiro, a panela, o fogão, a tradição. E, principalmente, houve uma evolução do paladar das pessoas. A gente consegue, através da câmera, influenciar as pessoas a comer melhor, a comprar melhor.
Claude Troisgros está à frente das câmeras há 15 anos Foto: divulgação/globo/VICTOR POLLAK
Essas mudanças extrapolam os limites da cozinha?
Sem dúvida. As casas ficaram diferentes, as cozinhas passaram a ser abertas, integradas. Através dos programas as pessoas descobriram que cozinhar é, também, uma terapia.
Hoje, você passa mais tempo na cozinha ou no estúdio?
Os meus estúdios são sempre uma cozinha, a diferença é que a gente conversa com as panelas quando está gravando.
Muda muito fazer um programa na TV aberta?
Passamos de quatro para 30 câmeras, temos plateia, é uma grande produção. Além de atingir um público bem maior.
As pessoas param você na rua para tietar. Você se considera um artista?
Eu e o Batista estamos na frente das câmeras há 15 anos. Não me considero artista, mas um apresentador.
A gastronomia está na moda?
Não é um modismo, veio para ficar e evoluir cada vez mais.