O consumo de alimentos saudáveis ganhou força no Distrito Federal. Estimativa da Comissão de Produção Orgânica no DF (CPOrg-DF) mostra que, de 2021 para 2022, o setor teve alta de 20% nas vendas, impulsionado pelo público jovem, que passou a se interessar pela alimentação rica em nutrientes e proteínas sem agrotóxicos. No movimento orgânico desde 1994, o presidente da Comissão, Verinaldo da Silva Souza, 48 anos, conta que os cerca de 500 produtores certificados pelo Ministério da Agricultura e Pecuária têm vendido mais frangos orgânicos, ovos e alimentos hortifruti, como tomate e cenoura.
Técnico em agropecuário e administração de empresas, Verinaldo explica que as pessoas consomem comida orgânica porque faz bem à saúde, além de existir uma relação com o meio ambiente, sem uso de agrotóxicos. "É um novo hábito que a gente acaba tendo. Atribuo ao estilo de vida, e falo que o alimento orgânico tem uma relação direta com a saúde. Tenho uma filha de seis meses e um de seis anos, e gosto de prezar por uma boa saúde na minha família", opina o comerciante.
Verinaldo explica que o custo-benefício em relação ao produto compensa quando os clientes têm consciência de onde vem o alimento e a forma natural como é produzido. "Às vezes, as pessoas não consomem o produto orgânico porque é caro, coisa de rico, mas quando elas têm consciência, o estilo de vida com alimentos mais saudáveis é melhor e ela se torna um ser humano com mais possibilidade de ser feliz. Comprar um um quilo de tomate, por exemplo, vai estar mais barato que o tomate orgânico, mas você precisa comer a quantidade necessária para o seu dia, com uma boa qualidade", argumenta.
Caminho sem volta
Cliente frequente da loja Korin, na Comercial da 715/714 Norte há sete anos, desde que se curou do câncer de mama, a aposentada Ivete Campos vai a pé de casa, na quadra 105 Norte, até o local, a feira que acontece aos sábados. Semanalmente, ela costuma comprar tomates, carnes e produtos integrais. "Tenho uma afinidade para esse tipo de alimentação. Comecei a praticar pilates, andar de bicicleta e usar o tomate para fazer molho natural", relata.
A atenção com a sustentabilidade do planeta é um cuidado a mais para o cineasta Getsemane Silva, 50. Ele reconhece que o valor do alimento passa pela transparência de como é produzido. "Busco qualidade, com menos produtos químicos. É uma tentativa de ser mais saudável, com menos conservantes", avalia. O morador da Asa Sul costuma comprar em mercados e feiras do DF, onde encontra preços parecidos com o varejo. "O preço compensa. Em geral, percebo que é 10% mais caro, mas vale a pena para quem tem condições", compara o consumidor.
Comunidade engajada
A relação de consumidor e produtor também é diferente no mercado de produtos orgânicos. Uma prova é a Comunidade que Sustenta a Agricultura da Florestta (CSA), com chácara em Luziânia, onde cultiva vários alimentos. Os mais consumidos são alface, cenoura, rúcula, banana, cebola, abobrinha e brócolis. "É uma relação de confiança com os clientes, na qual as pessoas sabem para onde vai sair o dinheiro delas, qual família está apoiando financeiramente", contextualiza a dona da marca, Gisely Coité, 40.
Advogada de formação, ela e o marido, Aleixo Leitão, 40, criaram a empresa há nove anos porque era difícil encontrar orgânicos em Brasília para a introdução alimentar da filha recém-nascida. Foi, então, que passaram a plantar verduras no quintal de casa com ajuda financeira de cinco amigos. No modelo da CSA, o cliente pode visitar o sítio da família e ter contato direto com o produtor durante visitas marcadas a cada três meses. Os próximos devem ser em 18 ou 25 de março. "As famílias apoiam um produtor rural que recebe um valor por mês e entrega uma assinatura pautada na economia associativa e colaborativa. Isso é muito bacana porque o produtor não fica desamparado financeiramente. As pessoas pagam para o produtor produzir, e, com a participação do grupo, vão opinar na produção de acordo com sazonalidade", adianta Gisely.