GABY DE SABOYA, SANGUE BALSENSE NO TEATRO BRASILEIRO
Raimundo Floriano
A atriz à direita é Gaby de Saboya, neta de minha Tia Alice, estrelando, juntamente com Marcelle Sampaio, a peça Musas, em excursão por todo o Brasil. A montagem promove um encontro ficcional entre a pintora Frida Kahlo e a poetisa Sylvia Plath, papel desempenhado por Gaby.
A trupe tem agenda lotada, com apresentações em Brasília, nos dias 9, 10 e 11 de agosto, no Teatro Brasil 21; em Salvador, nos dias 16 e 17, no Teatro Sesc-Senac Pelourinho; e em Goiânia, nos dias 7 e 8 de setembro, no Teatro Sesi, dentre outros compromissos.
“A pintora mexicana Frida Kahlo (1907/1954) viveu num país quente. Sua tragédia pessoal sempre foi com a parte sul de seu corpo: além da poliomielite na infância, que a deixou manca, sofreu grave acidente, que a obrigou a ficar acamada boa parte de sua vida. Usando colete para a coluna, teve amputados uma perna e dedos dos pés. Foi casada com Diego Rivera, que já era um pintor reconhecido, por quem foi traída muitas vezes, inclusive com própria irmã. Nunca conseguiu ter filhos. Adorava fotografia, era incomparável na maneira de se trajar, pintava para expressar sua dor e sua visão do mundo e, nas horas vagas, escrevia em seus diários. Apesar de todos os reveses, Frida pulsava vida, era generosa, exuberante, sensual, combateu as traições do marido e teve vários amantes, homens e mulheres. Os espelhos ajudaram-na a afirmar sua autoestima. Faleceu precocemente, aos 47 sete anos de idade.
“A poetisa norte-americana Sylvia Plath (1932/1963) viveu em regiões frias. Seu drama sempre foi com a parte norte de seu corpo. As crises de sanidade levaram-na aos eletrochoques e aos calmantes. Tinha obsessão pela figura masculina, primeiro o pai, depois o marido. Casada com Ted Hughes, escritor renomado, foi traída por ele, ao que se sabe com uma única mulher, adultério e ausência que não suportou, suicidando-se por asfixia, ao colocar a cabeça dentro do forno a gás, isso aos 30 anos, em plena mocidade. Teve dois filhos, mas a maternidade não lhe deu força suficiente para evitar esse ato, deixando-os órfãos, ainda crianças. Odiava ser fotografada, era discreta, introspectiva, tendendo à depressão. Pouco confiante, escrevia para expressar-se e manter-se viva. Nas horas vagas, fazia desenhos em seus cadernos. Era frágil como cristal e viveu num a redoma de vidro. Sua obsessão era a morte.
“Uma pintora mexicana e uma poetisa norte-americana, que nunca se encontraram na vida, dividem a cena de Musas, de Nestor Caballero. A peça desse venezuelano, inédita no Brasil, não é biográfica, não relata detalhadamente fatos da vida das duas artistas, mas oferece um mosaico de sensações, perdas, desejos, sinais de desespero, encontros surreais, breves momentos de felicidade.
“Inicialmente, perguntamo-nos que semelhanças ligaram essas duas mulheres, aparentemente tão distintas, para que o autor as reunisse no palco. Ambas foram casadas com intelectuais expressivos, ambas foram traídas, ambas tiveram uma vida conturbada, mas a maneira como lidaram com seus dramas pessoais parece quase divergente. Talvez estivesse aí a chave para compreensão do autor.
“O título que Caballero dá a sua peça é revelador: por que duas artistas tão expressivas, confessionais, contundentes, com traços tão pessoais, são chamadas de Musas? Há nessa qualificação referência ao fato de elas terem vivido ofuscadas pelo marido? Faz parte de um mundo machista e misógino restringir a função de ‘musa inspiradora’ à mulher?
“Elas foram musas, tanto para Diego Rivera e Ted Hughes, quanto para diversos outros artistas e admiradores. Mas foram, também, mais que musas. Ser musa é uma função menor? Quem nos pode afirmar que já serviu de inspiração para a arte ou a vida de alguém? Como transfiguramos o que recebemos? Por quanto tempo conseguimos manter-nos de pé e com a cabeça erguida?
“A montagem da peça é dedicada a todos os que honraram a terra em que pisaram e que renovaram o mundo com suas maravilhosas cabeças.”
(Texto extraído do prospecto da peça)
Marcelle Sampaio e Gaby Saboya: em cena
Falemos agora do sangue balsense abrilhantando o Teatro Brasileiro. Depois da sobrinha Mônica Silva, neta de minha irmã Maria Isaura, aqui retratada no dia 09.01.11, sob o título “Mônica Silva, Sangue Balsense na Patinação Mundial”, mostrando sua trajetória nas pistas do Holiday on Ice e da Disney on Ice, ora é a vez dessa outra, a Gaby, extasiar o Brasil e, praza a Deus, o Exterior com sua dramaturgia. O que vem a justificar plenamente o título de meu penúltimo livro: De Balsas para o Mundo.
Alice Albuquerque Bezerra, a Tia Alice, irmã de minha mãe, Maria Bezerra, nasceu em Balsas, no ano de 1907, coincidentemente o mesmo de Frida Kahlo. Era filha de José Bezerra de Farias e Ana de Albuquerque Bezerra. Em 1917, a família mudou-se para Goiás Velho, ficando em Balsas apenas minha mãe, que já estava de casamento engrenado com meu pai, Seu Rosa Ribeiro.
Em Goiás velho, Tia Alice casou-se com José Garibaldi Fonseca, com quem teve cinco filhos, sendo três rapazes e duas moças, uma das quais, a Maria Alice, veio a casar-se com José Luiz Saboya. Estes dois, residentes no Rio de Janeiro, são pais da talentosa Gaby, atriz que infla de orgulho o peito de todo o clã Albuquerque.
Você, meu querido leitor, que me acompanhou nestas maltraçadas linhas até aqui, é um privilegiado: quando o espetáculo passar em sua cidade, já ira sabendo de tudo sobre a personalidade das musas nele homenageadas.
Sábado, dia 10, eu estive lá, não só para conferir, como também abraçar a Gaby, sobrinha que não via há uns dez anos.
Não sendo crítico especializado, mas apenas curtidor da arte teatral, ouso externar meu parecer sobre a apresentação a que assisti. A parte técnica deixou um pouco a desejar. Acho que deveria haver microfones individuais, para que as atrizes fossem mais bem ouvidas por toda a plateia. Quanto ao desempenho das duas e ao valor da peça, em escala um a dez, minha nota é: dez! Nota dez!
Como testemunha ocular da história, eis minha participação na trama:
Marcelle , Raimundo Floriano e Gaby
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