Chegou a hora de a CBF rever um ponto específico de seu Regulamento Geral de Competições, para permitir que os clubes inscrevam mais jogadores estrangeiros. Hoje este limite é de cinco, que podem ser distribuídos em qualquer proporção entre os jogadores em campo e no banco de reservas. A última alteração ocorreu em 2013, quando o limite aumentou de três para cinco.
Nos últimos dez anos a situação mudou muito. O Brasil se consolidou como um mercado comprador. Estão aqui os melhores jogadores sul-americanos que não atuam na Europa. O continente que concentra a elite do jogo está saturado, como prova a grande quantidade de jogadores muito jovens que estão voltando ao Brasil depois de alguma experiência por lá (é um absurdo falar em “fracasso”, mas isso é tema para outra coluna).
O Brasil costuma liderar as estatísticas de transferências internacionais e de nacionalidades mais presentes na maior competição de clubes da Europa, a Champions League. O futebol brasileiro produz jogadores em quantidade e qualidade suficientes para poder prescindir dessa reserva de mercado, que cria situações que não deveriam ocorrer.
No último domingo, quando enfrentou o Palmeiras, o São Paulo escalou Ferraresi (Venezuela), Arboleda e Méndez (Equador) e Calleri (Argentina) como titulares, e deixou Orejuela (Colômbia) no banco. Após o jogo, Rogério Ceni explicou que “não conseguiu completar o banco de reservas” porque não podia escalar mais estrangeiros. Ficaram fora Gabriel Neves (Uruguai), Alan Franco e Galoppo (Argentina). O Grêmio, com seis estrangeiros, vai enfrentar situação semelhante.
Mas é preciso adequar as regras ao que o mercado já consolidou como realidade: o Brasil é um destino atraente tanto para jovens promissores como o argentino Fausto Vera (22 anos, Corinthians) quanto para veteranos ultra consagrados como o uruguaio Luis Suárez (36 anos, Grêmio).
É evidente que nada disso significa que os estrangeiros sejam superiores. Ninguém produz jogadores de futebol como o Brasil. Mas a presença de atletas de outros países estimula a concorrência, puxa para cima o nível dos brasileiros. Foi o que aconteceu nas principais ligas europeias, com uma óbvia influência positiva no futebol de seleções desses países. O Brasil já fez esse favor ao resto do mundo. Está na hora de permitir que, pelo menos em parte, esse favor seja devolvido.