25 de abril de 2022 | 05h00
Neymar acaba de ser campeão francês e, assim, aumentar sua coleção de títulos, 27 desde que surgiu como um meteoro na Vila Belmiro, encantando e fazendo do Santos um time que todos queriam ver. Mas o melhor jogador que o Brasil tem e maior esperança de Tite na Copa do Catar saiu de campo vaiado por parte da torcida que permaneceu no estádio no empate por 1 a 1 com o Lens, porque a outra parte virou as costas ao Paris Saint-Germain e foi embora antes da festa.
Não era para ser assim. Outros jogadores outrora reverenciados foram condenados da mesma forma pelos seguidores do Paris. Refiro-me a Messi e o próprio francês Mbappé.
Mas vou aqui me ater apenas ao jogador brasileiro. Aos 30 anos, o atacante já deveria ter conquistado os torcedores do mundo todo com seu talento e jogadas extraordinárias. Não há como negar que qualquer equipe fica mais forte com sua presença. Sua genialidade não tem limites, tampouco a facilidade com que marca gols ou os dá para que seus companheiros brilhem. Mesmo assim, Neymar enfrenta uma resistência que poucos atletas da sua geração vivenciaram na carreira. Ele não é querido no seu próprio time, com quem tem contrato por mais três anos.
Mesmo com a presença de Messi ao seu lado e o crescimento assustador de Mbappé, o PSG ainda é Neymar. Qualquer time no mundo gostaria de ter o brasileiro em suas fileiras. Neymar ganha partidas e campeonatos. Mas os franceses não o querem mais, como já foi pedido em campo e agora com essas vaias no dia do título, o que o fez se manifestar publicamente: “é surreal que parte dos torcedores (do PSG) tenha deixado o gramado”.
Na série Caos Perfeito, da Netflix, Neymar toca no tema do amor e ódio que o persegue, que o faz ser herói e vilão diante das pessoas. Fala em ser Batman e Coringa ao mesmo tempo, mas que nunca foi uma coisa nem outra na vida. O fato é que seu lado Coringa prevalece em Paris, e cada vez mais esse sentimento de rejeição petrifica seu coração, tira o sorriso de seu rosto e fere sua alma.
Uma das conclusões que poderiam explicar isso está em seu jeito de “eu posso tudo” que ele transmite, mesmo que, talvez, involuntariamente. Há uma arrogância natural e dos que o cercam e tudo de “errado” que já aconteceu em sua vida. Astros como Neymar são julgados o tempo todo. E não há o que fazer para frear isso.
Edu Gaspar, ex-coordenador da seleção brasileira, foi duramente criticado quando disse, durante a Copa da Rússia, que era duro ser Neymar. Não se ouviu voz capaz de defender o jogador naquela época, sua segunda Copa fracassada.
Nada que Neymar faça parece “limpar” sua barra diante dos torcedores – nem na França nem no Brasil. O buraco é fundo. Precisa encontrar uma saída e parece que ela não está dentro de campo, no futebol.