Se não ficaram marcadas por grande nível técnico, as atuações mais recentes de Tiquinho Soares e Gabigol serviram ao menos para que os atacantes mais badalados de Botafogo e Flamengo fizessem as pazes com as redes. A expectativa daqui para frente é que a máxima do gol que dá confiança se torne realidade e permita o retorno definitivo de ambos a seus melhores dias. Mas será que há verdade nesse clichê do futebol?
Barrado do time titular do Flamengo por Tite, que tem preferência por Pedro, Gabigol convivia com um incômodo jejum que ultrapassava os seis meses sem marcar com a bola rolando. Após deixar o dele contra o Sampaio Corrêa, anteontem, postou nas redes sociais uma foto de sua comemoração habitual com uma música que diz: “Vou me vingar de todos que riram de mim”.
Henrique Almeida, atacante com passagens por seleções de base, diversos clubes da Série A e que atualmente está no Vila Nova-GO, defende que o gol “aumenta a confiança 100%”.
— Nessa fase, as pessoas começam a falar, e o jejum entra na cabeça. Quando o jogador faz gol, a confiança vai lá para cima. Tanto é que, às vezes, o cara faz um e, no jogo seguinte, faz outro. Até que as pessoas começam a brincar: “A bola bate nele e entra”. Tudo isso é a confiança alta. Quando ela está baixa, você não chuta de certa distância, opta por um passe ou algo do tipo... Agora, quando ela está elevada, você automaticamente arrisca mais, e as coisas fluem melhor — argumenta.
Eduardo Cillo, coordenador de Psicologia Esportiva do Comitê Olímpico do Brasil (COB), vai além da percepção de campo e aponta um viés científico:
— O golpe da confiança existe. Se a seca se prolongar, a tendência é que se crie um estado de tensão. Então, o jogador muitas vezes tenta responder colocando mais energia, o que, em excesso, está associado à tensão muscular. O efeito disso é a possibilidade de modificação do gesto técnico do jogador, perdendo a precisão fina para tirar do goleiro, tomar uma decisão, dar um drible por vezes necessário...
Segundo Cillo, esse excesso de tensão é capaz de afetar o nível do atleta de modo que ele sequer perceba com refino as movimentações em torno dele, seja de companheiros ou adversários.