Em 2008, o América-MG disputava a segunda divisão do Campeonato Mineiro. Naquela mesma temporada, o Vasco caía pela primeira vez para a Série B do Brasileirão. De lá para cá são 14 anos. Incapaz de se reconstruir, o time carioca está no lugar que, em tese, seria do América. Com um jeitinho mineiro de ser, o Coelho preenche o espaço que, em circunstâncias normais de temperatura e pressão, deveria ser ocupado pelo Vasco: a fase de grupos da Libertadores.
A classificação do América em dois triunfos nos pênaltis contra o Guaraní, do Paraguai, e o Barcelona de Guayaquil nesta terça-feira é um tapa na cara de gigantes do futebol brasileiro. Dá um pouquinho a dimensão de como alguns times tradicionais pararam no tempo.
Em 2008, o América competia com Uberlândia, Caldense, Itaúna, Araxá, URT, Poços de Caldas, Ideal, Formiga, Valeriodoce, União Luziense e Passense pelo título da Série B do Mineiro, chamado por lá de Módulo II. Uma década e meia depois, está entre os 32 maiores clubes da América do Sul. Aguarda pelo sorteio, em 25 de março, para saber em qual das oito chaves entrará na fase mais importante da principal competição do continente.
Obviamente há quem relativize o sucesso do América-MG argumentando que nunca antes na história desse país se distribuiu tantas vagas para a Libertadores. Há quem diga que o clube mineiro não convive com a pressão dos gigantes. Outros exaltarão a sorte, o sucesso em duas disputas consecutivas nos pênaltis. Os mais incautos alegarão que os times do Guaraní e do Barcelona não são de nada. E ai de quem lembre que o time paraguaio eliminou o Corinthians duas vezes e o Barcelona foi duas vezes vice-campeão da Libertadores. Outro dia, inclusive, era o único intruso nas semifinais contra Atlético-MG, Flamengo e Palmeiras.
Afundado pelo segundo ano consecutivo na Série B, o Cruzeiro deve estar se moendo. O herói do América-MG é o goleiro Jailson, aquele que não serviu para assumir as traves celestes. Ronaldo desembarcou no clube e seus assessores decidiram dispensá-lo. Deixou a Toca da Raposa pela porta dos fundos ao lado do ídolo Fábio. Curiosamente, outro goleiro que pode avançar à fase de grupos nesta quarta-feira se o Fluminense sustentar a vantagem de 3 x 1.
Futebol se ganha em campo, mas, também, fora dele. Um colega de Belo Horizonte, sempre muito atento à vida do Coelho, destaca a administração do presidente Marcus Sallum. Segundo ele, o dirigente é muito correto, humilde e honesto. Artigos de luxo em tempos tão sombrios.