04 de maio de 2020 | 05h00
Um dos principais torneios de futebol no mundo, o Campeonato Espanhol ensaia seu retorno aos gramados. Os jogadores voltam nesta segunda-feira aos treinamentos. As atividades serão individuais, mas ainda há muita polêmica sobre as garantias à saúde dos atletas.
A Espanha é um dos países mais afetados pela pandemia da covid-19 e, da elite do futebol europeu, se junta à Alemanha e à Itália ao grupo que ensaia a volta das competições.
A ideia inicial era que todos os atletas dos clubes espanhóis passassem por exames médicos antes de iniciar os treinos. Na última quinta-feira, porém, ficou decidido que apenas quem apresentar sintomas do novo coronavírus ou tiver contato com alguém infectado será avaliado. A decisão aconteceu em uma reunião que contou com representantes do Ministério da Saúde, do Grupo de Trabalho de Incentivo ao Esporte, da Liga Espanhola de futebol e do sindicato de jogadores, além de membros de federações de diversos outros esportes.
Por enquanto, os jogadores podem treinar sem ter qualquer contato um com o outro. Os atletas estão se exercitando em casa desde o início de março, quando as partidas foram interrompidas. O retorno aos treinos faz parte da “fase um” do programa de saída da quarentena no futebol espanhol. A ideia é que as atividades ocorram assim até o dia 18 de maio, quando poderão ser autorizados treinos de grupos reduzidos, com até oito pessoas.
Este próximo movimento é denominado de “fase dois” e a “fase três” é de treinamento com o grupo completo, que precisa durar pelo menos duas semanas antes do retorno efetivo das partidas.
A expectativa é de que as três fases levem, no total, um mês. Não há uma data precisa para a retomada das competições, mas a Federação Espanhola projeta o dia 5 de junho como uma possível volta do futebol nacional. Faltam 11 rodadas para o fim do Espanhol.
Os jogadores estão divididos sobre trabalhar quando a pandemia ainda não está controlada na Espanha. O meia Ivan Rakitic, do Barcelona, disse estar disposto a retornar aos jogos, mesmo ciente dos riscos de contrair a doença.
“Quero jogar. É evidente que devemos tentar voltar com a maioria das garantias sanitárias, mas devemos saber que nunca vão ser 100%’’, disse o croata ao jornal Marca. “É o mesmo risco que vão ter todos os trabalhadores na volta à rotina. Empregados de supermercados também usam vestiários e têm as mesmas possibilidades ou mais de contaminação que nós. Eles assumem esse risco e eu quero assumir também.”
Por outro lado, o elenco do Valencia está temeroso. O time espanhol teve 15 jogadores e mais 10 membros da comissão técnica contaminados pela covid-19. Um dos motivos para a pandemia atingir tão forte a equipe pode ter sido o fato de ter jogador no fim de fevereiro e início de março nas cidades de Milão, na Itália, e Vitória, na Espanha, dois focos da doença.
O brasileiro Gabriel Paulista usou suas redes sociais para deixar claro que não apoia o retorno neste momento. “Não quero que, por precipitação ou pressão financeira, que podemos entender, mas nunca priorizar acima das questões mais fundamentais, qualquer membro da família, amigo, colega de trabalho ou profissão possa ficar doente ou morrer”, afirmou o zagueiro do Valencia. “Amo o futebol, amo jogar, amo o meu clube e sempre queremos dar felicidade aos torcedores, mas também, e acima de tudo, amo e respeito a vida de todo ser humano”, emendou.
O lateral-esquerdo Gayà também se mostrou incomodado com a situação. “A liga pode ter uma ideia, mas se a Vigilância Sanitária não der o ok, não vai acontecer (a volta). Somos pessoas além de jogadores e temos famílias. É normal que haja medo de contaminação.”,
Rakitic acredita que o futebol pode ajudar as pessoas. “Socialmente devemos dar um passo, fazer com que as pessoas sejam entretidas com o que gostam, que deixemos de pensar um pouco no vírus e na doença, e voltemos a brincar com o vizinho que torce para um rival”, defende o jogador.