Pouco, ou quase nunca, me atrevo a escrever sobre futebol por não dispor de dois atributos essenciais para poder incluir o tema em meus escritos: primeiro, o talento de um Nélson Rodrigues, que tão bem e como ninguém tratou o assunto, inibindo a todos a abordagem do tema. Tudo que se escrever sobre nosso esporte parecerá incompleto se comparado ao que escreveu o dramaturgo Nélson. Segundo, a comparação do futebol de hoje com o de antes, hoje muito diferente do daquela época, em que interesses financeiros não se sobrepunham à beleza do esporte, ao romantismo da bola rolando por entre pés mágicos e mãos defensoras de gols quase feitos. Tempo em que não se beijava descaradamente o escudo do time eventualmente ‘defendido’ pelos atletas atuais. Bem diferente dos craques (a estes podemos chamar de craques) de ontem, que, apesar de não beijarem levianamente os escudos dos seus times, o defendiam de verdade, com amor. Um Garrincha, um Nilton Santos, um Castilho, para não falar de Pelé, defenderam seus times por anos e anos, quando o futebol era apenas um esporte, longe de ser um negócio. Tempos em que uma cantora famosa se apaixonava por um jogador pobre. Tempos em que o golkeeper batia roupa e o centrefor, na banheira, reclamava do juiz da marcação do offside. Pela falta de um drible emocionante de Garrincha, de uma defesa arrojada de Carlos Castilho e levando em conta a inexistência atual de equivalentes jogadores, prefiro estragar minhas letras com o amor, o afeto e a saudade. Por isso que hoje, não obstante eventualmente vista uma camisa vermelha e preta com um leão desenhado no peito, sob o ouro e a prata de algumas estrelas conquistadas, acho mais fácil falar das arquibancadas e refletores da lua, das traves e entraves do amor, das embaixadas e dribles das estrelas, dos lagos e jardins de nuvens preguiçosas e dos golaços dos arco-íris coloridos … Futebol é assunto difícil demais para mim. É coisa para o Nélson.
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