22 de abril de 2022 | 05h00
O Corinthians também tem sua pérola guardada com carinho e cuidado, a exemplo do atacante Endrick, do rival Palmeiras. É Breno Bidon, um garoto de 17 anos completados em fevereiro que joga no meio de campo, de 5 ou de 8, com facilidade para avançar e finalizar. O menino é acompanhado de perto pelos dirigentes do clube. Já tem contrato até 2025 e recentemente teve o seu nome inscrito na extensa lista do time na Copa Libertadores da América.
Ainda não teve chance de jogar, mas, para um garoto tentando a sorte num dos principais clubes do Brasil, estar na lista da principal competição sul-americana é algo interessante e uma conquista. Neste ano, o clube não o deixou disputar a Copa São Paulo de Futebol Júnior, diferentemente do que ocorreu com o palmeirense Endrick, que foi campeão e revelação do torneio, o maior e melhor para essa garotada aparecer.
Breno já deu passos importantes no Parque São Jorge. Ele e alguns outros colegas da base foram chamados para treinar com o elenco principal atendendo ao pedido do técnico português Vitor Pereira, que tenta dar padrão ao elenco de cima. Estar ao lado de atletas consagrados como Renato Augusto, Paulinho, Willian e Róger Guedes faz o coração de qualquer menino disparar. Ele viajou com o grupo para o jogo com a Portuguesa, do Rio, pela Copa do Brasil, mas foi cortado no vestiário do banco.
O Corinthians não foi o primeiro time de Breno. Ele já esteve em outras equipes de São Paulo nas categorias de base. Seu sonho de virar jogador de futebol começou aos 6 anos, quando pediu encarecidamente ao pai, Glaucio Bidon, um representante comercial e dono de empresa, para levá-lo na primeira peneira de sua vida, ainda no futsal. “Nossa casa tinha bola para todo lado. Ele, desde pequeno, queria driblar todos nós”, conta o pai. A partir daí, o futebol sempre foi uma opção para Breno.
Pai e mãe se revezavam para levá-lo aos treinos, peneiras e jogos. Quando um não podia ir por causa do trabalho, o outro fazia o esforço. Sempre deu certo. A prática ainda vale atualmente para os treinos no Corinthians. Em sua casa, o futebol é carro-chefe. No quarto de Breno, há duas camisas esticadas em quadros de vidro, uma do Paris Saint-Germain e outra da seleção brasileira. O pai, perto dos 50, ainda joga bola na várzea. A mãe tem orgulho de torcer para o time que o filho atua. E a irmã Lara, em meio aos cadernos de 200 páginas da escola no dia na entrevista, nem bem cumprimentou o pai quando Breno chegou e foi logo dizendo que o atacante Benzema havia marcado três gols pelo Real Madrid contra o PSG e eliminou o time de Neymar da Liga dos Campeões.
Breno já tem contrato com a adidas e só pode usar as roupas da marca. Vestia uma camisa branca com a estampa colorida de Lionel Messi na frente e o número 10 nas costas. O garoto é educado e fala pouco. Diferentemente dos meninos da sua idade e dos atletas profissionais, ainda não tem nenhuma tatuagem.
A mãe, Andrea, conta que a entrevista com o Estadão foi pretexto para desmarcar uma aula online na escola, agendada para o mesmo horário. Os pais de Breno logo perceberam que seria difícil conciliar o estudo com treinos e jogos. Mas nunca abriram mão da educação de Breno. Ele termina o ensino médio neste ano. Como todo menino de sua idade, torce o nariz para os estudos. Mas na casa dos Bidon, estudar é inegociável.
Chegar ao Corinthians não foi fácil. Ele passou por várias peneiras, lamentou ficar no banco de reserva em alguns times, sem a chance de jogar um único minuto, mas nunca pensou em desistir. “Eu quero fazer história no Corinthians”, diz. Sua carreira é administrada por empresários ligados ao ex-goleiro Marcos. Todo o seu contrato pertence ao Corinthians, sem qualquer fatiamento de valores ou porcentagem. Como a família é de classe média, Breno tem quase tudo o que precisa. Os agentes só vão lucrar com ele em caso de uma negociação.
Breno sabe que os clubes da Europa desembarcam no Brasil cheios de dinheiro já de olho nas categorias de base. Buscam revelações antes mesmo de elas estourarem. Foi assim com Rodrygo, do Santos, e Vinícius Junior, do Flamengo, ambos negociados com o Real Madrid. Antes disso acontecer, se acontecer, o volante corintiano tem mais alguns testes para fazer. Jogar a Copinha é um deles. Se manter no time de cima e treinar com o profissional é outro desafio. Quem sabe fazer uma partida sob o comando de Vítor Pereira ainda nesta temporada... Dificilmente ele jogará a Libertadores, mas está inscrito... vai que o homem chama.
Ganhar um pouco mais de massa muscular o ajudaria a suportar os encontrões em campo. Ele ainda tem um corpo frágil para os padrões dos profissionais. É um garoto em formação muscular. Dentro de campo, cadencia o jogo conforme o ritmo que deseja, mas também sabe acelerar. Já fez gols da entrada da área, onde quase sempre está nas bolas paradas. Os dirigentes corintianos acompanham seus passos de muito perto.
A temporada tem sido de conquistas para Breno. Assinar o primeiro contrato e começar a ganhar um salário era um objetivo. Daí para frente, como seu pai diz, é com ele.