21 de março de 2022 | 05h00
Na lista de reparos a se fazer no futebol brasileiro, o calendário tem prioridade. Não é de hoje que se fala da insanidade de os clubes jogarem, em média, 75 partidas por temporada. São 6.750 minutos, sem os acréscimos, as prorrogações e as possíveis disputas de pênaltis. Tirando um mês de preparação (janeiro) e outro de férias (dezembro), são dez meses para abraçar todos esses jogos, numa outra média de 7,5 por mês, o que equivale dizer que cada time faz um jogo a cada 4 dias. Tirando um de descanso e outro da partida propriamente dita, há dois dias para treinar, se recuperar de lesões e desgastes musculares e se alimentar adequadamente.
Qualquer contratempo derruba essa conta, para mais ou para menos. O Santos, por exemplo, não se classificou para as partidas finais do Paulistão, deixando de jogar jogos das quartas, semifinal e final se chegasse até lá. É provável que Corinthians, São Paulo e Palmeiras avancem no torneio e tenham de atuar quatro jogos a mais que o time da Vila.
O calendário no Brasil é tão maluco que há times que jogam demais e outros que lamentam não ter partidas para movimentar o elenco ao logo de todo o ano. Como pode? E os jogos não param nem quando a seleção está em campo.
Quem tem competência, com presença nas disputas da temporada (Estadual, Copa do Brasil, Brasileirão, Sul-Americana e Libertadores), paga o pato e pode jogar mais vezes.
Técnicos e jogadores não aguentam mais isso, tampouco querem cumprir esse ritual, com argumentos fáceis de serem entendidos. O corpo não suporta tantos jogos. Os atletas estão correndo, em média, 12 km por partida. Antes, eles corriam menos de 10 km. Faz diferença. As carreiras podem ser encurtadas por causa de tantos duelos. Tem mais. A torcida, tão ensandecida quanto o calendário, está partindo para as vias de fato contra jogadores de seu próprio time. A cobrança aumentou por boas apresentações. Mas isso só é possível quando os atletas estão descansados e mais bem preparados. Dos dois lados.
O problema é dos clubes, mas não somente deles. A CBF precisa deixar de se fazer de morta e entrar no assunto. Rapidamente. É o seu futebol que está pedindo socorro. As TVs e streamings que pagam pelo espetáculo, com transmissões modernas e de boas audiências, compram gato por lebre. Fazem tudo o que podem para destacar os jogos na grade, mas acabam mostrando confrontos, em sua maioria, ruins.
Para amenizar o desgaste, os treinadores assumiram as formações diferentes para cada partida. Não há mais time titular, embora haja jogadores de destaque. Quem manda é o condicionamento físico, o aspecto tático e técnico e a necessidade. Logo, o torcedor vai peneirar essas partidas e só pagar por elas quando o seu time estiver descansado e preparado.