RIO - O carnaval começa oficialmente no dia 22 de fevereiro, e o efeito dessa proximidade começa a ser sentido na produção de funk. Depois de alguns hits que se infiltraram no repertório dos blocos e bandas de bailes dos anos anteriores, o gênero partiu para uma programada invasão do espaço sagrado da folia. Na sexta-feira passada, o DJ Rennan da Penha abriu os trabalhos com a MC Pocah lançando nas plataformas digitais o funk “Carnaval chegando”.
'Aquecimento da Lexa'
Na sexta passada, a cantora Lexa também soltou o “Aquecimento da Lexa”, a primeira de suas músicas para o carnaval, que será seguida, no próximo dia 7, pelo lançamento de “Treme tudo”. Lexa, por sinal, será rainha de bateria do desfile da Unidos da Tijuca.
— O funk sempre foi carregado de liberdade de expressão. A linguagem é divertida, jovem, descontraída e democrática, assim como o clima do carnaval — explica Tatiana Cantinho, gerente artística e de conteúdo da Som Livre, a gravadora de Lexa.
— O funk ganhou forte investimentos em feats (parcerias entre astros de diferentes estilos) de peso e hoje transita por diversas classes sociais.
'Te prometo'
Rennan da Penha, que renovou o funk com a novidade do 150 bpm, tem mais duas músicas para sair até o carnaval, mas elas ainda não estão definidas (e uma delas deve ter o MC Livinho). Já o outro grande DJ do estilo, Dennis, promete reforçar nos próximos dias, no esquenta dos blocos, o ataque do seu brega funk “Te prometo”, parceria com o MC Don Juan, lançada em novembro. Enquanto isso, o produtor WC no Beat lança, com Pedro Sampaio e FP do Trem Bala, o “Balança”. E dia 7, o MC Pk lança, com Tati Zaqui, o funk “Escandalosa”.
— Não fiz especificamente para o carnaval. Ela não tem pegada de marcha, é modernizada, mas acho que pode dar muito certo. O funk hoje é candidato a ocupar esse espaço que durante tantos anos foi da música baiana — analisa Pk.
Para o MC, o funk pegou forte no pós-bloco.
— É aquela música que faz todo mundo beijar na boca. Ele não estava ainda 100% ajustado ao carnaval, mas do ano passado pra cá, músicas minhas, do Kevin O Chris, ajudaram a dar uma virada.
'Contatinho'
Gravadora de Pk, a Warner aposta para o carnaval em uma faixa de Anitta com Gabriel do Borel (“Joga sua potranca”, lançada dia 17), e na força de suas funkeiras no encontro com a música da Bahia, em duetos ainda a serem lançados: de Pocah com Leo Santana (“Lei da gravidade”), de Anitta, também com Santana (“Contatinho”), e um não definido de Ludmilla com Ivete Sangalo.
— O carnaval é festa. O funk é a realidade do sucesso e é o que toca no auge da festa, então tinha que virar música de carnaval também. É bom lançar funk no carnaval, é um momento em que a música vira notícia — analisa Luciana Costa, gerente de marketing da Warner Music Brasil. — Tem músicas como “Verdinha”, da Ludmilla, que saiu em novembro e que não foi feita para o carnaval, mas que depois se percebeu ser perfeita para ele. São músicas cujo sucesso pode durar até lá.
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Na Sapucaí
Diretora de marketing e promoção da Sony Music (que lança as músicas de Rennan da Penha, Dennis e WC no Beat), Cris Simões destaca uma vantagem, nos dias de hoje, para o funk da folia:
— A velocidade da indústria do streaming nos permite encontrar músicas mais próximo ao período do carnaval, já que não há mais necessidade de tanta antecedência no processo, como era com qualquer lançamento físico.
— Não é de hoje que as próprias escolas de samba inserem a batida do funk nas performances de suas baterias. O funk é um gênero que veio das comunidades, um ritmo democrático que hoje conquistou pessoas de todas as idades e classes sociais, conquistou o mundo — acredita Lima.
Para Felipe Ferreira, professor e estudioso da história do Carnaval e autor do “Livro de ouro do Carnaval brasileiro” (Ediouro), a identificação do Brasil com um estilo de música da folia é algo “positivo, mas não impositivo” — daí ser saudável a abertura ao funk.
— Durante muito tempo, o Brasil tinha a ideia de lançar músicas feitas para períodos específicos do ano: Carnaval, músicas juninas, Natal... Isso de uma certa forma passou, foi se perdendo dentro da coisa da indústria, que amplia, trabalha a música para o ano inteiro. Mas com a internet, veio a segmentação. Então, talvez a gente também esteja vendo um sintoma de um retorno disso, da ideia da música feita especialmente para o carnaval. A transformação das músicas de diversos gêneros em marchinha pelos blocos é outro sintoma. Acho muito bem-vindo.