Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

MPB da Velha Guarda quarta, 26 de outubro de 2022

FRED WILLIAMS, SUA GAITA E SEU CONJUNTO
FRED WILLIAMS, SUA GAITA E SEU CONJUNTO

Raimundo Floriano

 

 

Fred Williams e sua gaita

 

                        Na festa de minha posse na Academia Passa Disco da Música Nordestina, no Recife, o Padre Walter Azevedo, viciado gaiteiro, apresentou-me seu amigo Jeová da Gaita, exímio e consagrado instrumentista, que ali comparecera para prestigiar-me. Imediatamente, animei-me e falei que, desde a infância, eu também andara dando minhas assopradas, mas que nunca passara do bê-á-bá! Aí, Jeová interrompeu minha conversa para afirmar:

 

                        – Você não tocava gaita não. O que você tocava mesmo era vialejo!

 

                        Espantei-me! Até aquele momento, eu pensava que vialejo – corruptela de realejo – era um termo usado apenas pelos meninos matutos de meu sertão sul-maranhense. Pois ali estava um grande artista pernambucano que também o conhecia. Dali pra frente, nossa conversa correu frouxa.

 

                        Não houve menino de mina faixa etária que não ganhou um realejo, talvez o único brinquedo manufaturado daquele nosso rincão. Eu possuí vários. Tocá-lo era como qualquer outro ato corriqueiro, coçar-se ou respirar. Uns faziam-no bem, outro nem tanto.

 

                        Quando comecei, foi com esses comuns, fabricados pela Hering, em várias versões: Sonhadora, Gloriosa, Serenata, Yara, Tico-tico, todas sem chave, ou seja, os acidentes – sustenidos e bemóis –, o que impossibilitava executar uma carrada de músicas. De Asa Branca, por exemplo, só saía a primeira parte, não sendo possível tocar a introdução.

 

                        Em dezembro de 1951, meu irmão Bergonsil, o Chilim, me presenteou com o primeiro realejo com chave, já então chamado gaita de boca, o modelo Membi, 40 vozes, da Hering. Nessa mesma época, meu irmão Afonso Celso, que era gaiteiro contratado pela Rádio Brasil Central da Goiânia, me ensinou a fazes os baixos com a língua, um negócio muito complicado.

 

                         De posse da Membi e dominando a baixaria, aventurei-me na primeira música com acidentes de minha vida, uma ousadia sem igual: o choro Brasileirinho de Waldir Azevedo. Quem quiser saber como isso era dificílimo, tente!

 

                        Nesse ínterim, as rádios e as gravadoras incentivavam-nos a prosseguir investindo na gaita de boca, apresentando grandes astros internacionais, como o americano Johnny Puleo, o belga Toots Thielemans, e o brasileiro Eduardo Nadruz, ou simplesmente Edu, o Mago da Gita, que, em 1956, extasiou o Mundo ao gravar o Moto Perpétuo, de Paganini, pela vez primeira num instrumento de sopro.

 

                        E, logo após esse estrondoso feito de Edu, que encheu de orgulho o peito de seus patrícios, novo som me apareceu e me maravilhou, pois eu não conseguia atinar o modo como o novo artista do gênero na praça, chamado Fred Williams, conseguia tirar aqueles instigantes efeitos com sua gaita.

 

                        E só vim a saber o segredo daquele mistério, quando meu irmão Afonso, novamente veio passar férias em Balsas, trazendo pequena valise cheia de gaitas de boca, de vários tamanhos, modelos e escalas, uma delas enormes, como estas que Fred Williams adiante exibe:

 

Fred Williams e seu arsenal

 

                        Só então, compreendi aquele surpreendente, extraordinário, admirável efeito que tanto me baratinava. E só então, também fique sabendo que nas gravações de Fred Williams e Seu Conjunto, atuavam, no mínimo, três gaitas diferentes.

 

                        Nas gaitadas da vida, cheguei a possuir 3 Hohner alemãs, 48 vozes, a última das quais guardei tão bem guardada, que nunca mais consegui encontrá-la. Contento-me com uma similar, Hering Velvet Voice, também ótimo equipamento.

 

                        De todos os gaiteiros que conheci até hoje, eu reconheço estes dois como os maiores: Edu, no gênero erudito, e Fred Williams, no popular!

 

                        Edu, gaúcho de Jaguarão (RS), nasceu a 13.10.1916 e faleceu a 23.08.1982. O carioca Fred Williams, batizado Manoel Xisto, nasceu a 28.12.1926 e, pelo que me consta, ainda se encontra entre nós.

 

                        Para que vocês conheçam um pouco de seu virtuosismo e sua obra, disponibilizo-lhes estas faixas, solicitando muita atenção para o solo e a baixaria:

 

                        Baião da Serra Grande, baião de Fred Williams, uma das grandes recordações que guardo de minha juventude:

 

                        Uma Farra na Churrascaria, samba de Fred Williams:

 

                        Vou Tocar em Pernambuco, frevo de Fred Williams:

 

                        Coisinha Linda, rancheira de Maria Clara:

 

                        Barril de Vinho, polca de Fred Williams:

 


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