Cerca de 135 mil pessoas foram às ruas da França no quarto sábado consecutivo de protestos dos coletes amarelos contra o governo do presidente Emmanoel Macron. Medidas excepcionais de segurança em Paris, como o inédito uso de blindados e a mobilização de 90 mil agentes mobilizados, conseguiram evitar a repetição das cenas caóticas de depredação do último fim de semana, mas novos confrontos irromperam entre a polícia e os manifestantes, com a apreensão de objetos como máscaras, martelos e paralelepípedos.
Ao detalhar que houve 1.385 detenções, 651 delas na capital, e 975 pessoas em prisão preventiva, o ministro do Interior, Christophe Castaner, avisou que o número poderia aumentar. “É um nível excepcional”, destacou o ministro, que também deu um balanço de 118 feridos entre os manifestantes e 17 nas forças de segurança. À noite, o primeiro-ministro francês, Edouard Philippe, tentou acalmar o clima e prometeu que Macron “falará e proporá medidas para nutrir o diálogo”. “Temos de tecer novamente a unidade nacional”, acrescentou, em breve declaração transmitida na televisão.
Na semana passada, Macron cedeu a algumas das demandas dos manifestantes: anulou o aumento do imposto sobre combustíveis, parte de um plano para combater a mudança climática, e congelou os preços do gás e da energia elétrica nos próximos meses. O protestos, porém, se mantiveram e, ontem, pela primeira vez, blindados foram usados na capital francesa. Pela manhã, a polícia usou gás lacrimogêneo para tentar conter manifestantes em uma rua adjacente à Champs-Élysées, perto do Arco do Triunfo, epicentro dos distúrbios do último fim de semana. Alguns manifestantes responderam lançando rojões. Outros tentaram incendiar a fachada da Drugstore Publicis, um estabelecimento comercial de luxo, onde a tensão aumentou no início da tarde.
A Torre Eiffel, o museu do Louvre e quase todas as lojas estavam fechados, com entradas e vitrines protegidas com painéis de madeira para evitar saques e quebra-quebra. “Faço isso pelo futuro do meu filho. Não posso permitir que ele viva em um país onde outros se enriquecem às nossas custas”, disse Denis, 30 anos. Tim Viteau, desempregado de 29 anos, participou pelo terceiro sábado seguido das manifestações, que ganharam uma pauta além da questão dos impostos. “Como vamos ter filhos? Eu também quero ter filhos”. Ele e sua namorada tiveram de voltar para a casa dos pais porque não conseguiram pagar o aluguel.
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Carros da polícia bloquearam o acesso à Avenida Champs-Élysées: 90 mil agentes mobilizados
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Ruas bloqueadas
Todo o oeste de Paris, onde ficam o Palácio do Eliseu (sede da Presidência) e a maioria dos ministérios, ficou coberto de azul, a cor das viaturas da polícia. As patrulhas bloquearam o acesso às principais praças da capital, incluindo a da Concorde, um dos extremos da avenida Champs-Élysées, que vai até o Arco do Triunfo. A poucas ruas do Palácio do Eliseu, na praça de Madeleine, estavam John e Dorian, de 31 e 29 anos, respectivamente. Gendarmes verificavam seus documentos. “É a segunda vez! Na estação do metrô já tiraram tudo. Os óculos de natação, o lenço, as caneleiras...”, conta Dorian, procedente de um subúrbio parisiense. “Estamos aqui para que nos escutem, pacificamente”, insistiu.
No restante do país, a calma prevaleceu pela manhã, mas houve registros de confrontos na parte da tarde. Na autoestrada que conecta Paris a Bordeaux (sudoeste), mais de 100 pessoas atearam fogo a pedaços de pau e pneus, bloqueando o fluxo de veículos durante boa parte do dia. Na fronteira franco-espanhola, os coletes amarelos montaram uma barricada seletiva, que bloqueava a passagem dos caminhões procedentes da Espanha, informou a prefeitura dos Pirineus Atlânticos.
Rodovias foram bloqueadas antes das manifestações como medida preventiva, mas algumas estratégias vazaram ainda na sexta-feira. O Ministério Público de Paris abriu uma investigação depois de sair na internet uma nota técnica da Direção da Segurança e Proximidade de Aglomeração sobre o dispositivo mobilizado para o dia de protestos.
"(O presidente) falará e proporá medidas para nutrir o diálogo. Temos de tecer novamente a unidade nacional”
Edouard Philippe,
primeiro-ministro francês
O presidente americano, Donald Trump, voltou a atacar o Acordo de Paris sobre mudanças climáticas, ao assegurar que os protestos dos coletes amarelos na França são prova do mal funcionamento desse pacto. “O Acordo de Paris não está funcionando muito bem para Paris. Protestos e distúrbios por toda a França, escreveu, ontem, em um tuíte. “As pessoas não querem pagar grandes quantias de dinheiro, muitas a países do terceiro mundo (que são questionavelmente dirigidos), para talvez proteger o ambiente”, acrescentou. Na terça-feira, o americano ironizou as concessões feitas pelo presidente Emmanuel Macron diante do movimento dos coletes amarelos, estimando o fracasso do Acordo de Paris.