Manoel de Barros
8 - FRAGMENTO DE CANÇÕES E POEMAS
A boca está aberta, seca e escura
De raízes mortas…
Encontro restos de orvalho
No rosto da terra, e os bebo
Ao silêncio do enxofre que penetra
Deito-me para germinar…
Ouço fluir a seiva
Ouço o caule crescer
Do ventre que gesta sob ramas…
Uma flor de moliços depois
Irá comendo o contorno dos lábios
E as mãos sem despedidas.
Corpo em árvore feito
Serei como talha de pedra
Na terra, com molduras de fresco
E hortênsias…
Ervas tolhiças crescerão
Nos interstícios do ser
E o que foi música e sede de sarças
Há de ser pasto de águas…