Foz do Iguaçu — O Brasil é mesmo um país admirável. Não se conquista o privilégio de figurar entre as sete maravilhas do mundo por acaso. Nas categorias moderna e natural da honorável seleção, nós estamos lá, com destaques reconhecidos mundialmente: o Cristo Redentor, a Amazônia e as Cataratas do Iguaçu. Enquanto o maior bioma do mundo tem a paternidade compartilhada com outros oito países, as robustas quedas d'água são divididas apenas com a vizinha Argentina e até parecem ficar esquecidas lá no Sul do país, mas é um dos destinos mais procurados pelos turistas. Segundo levantamento feito pelo Parque Nacional do Iguaçu, 1,4 milhão de visitantes estiveram no local em 2022.
A viagem toda, que durou cerca de oito horas, é um pouco cansativa, porém, a sensação da chegada é reconfortante quando você, ainda no avião, visualiza de cima o conjunto gigantesco de cachoeiras e se dá conta de que está próximo não somente das famosas cataratas, e sim também da fronteira com outros dois países da América do Sul, tornando o passeio uma experiência também internacional (leia Tríplice fronteira).
Garganta do Diabo, cenário de deuses
O acesso pelo lado brasileiro é muito tranquilo: o Parque Nacional do Iguaçu fica dentro de Foz, a poucos quilômetros do centro, com diversas modalidades de transporte, incluindo ônibus coletivo urbano e carro por aplicativo — com preços que vão de R$ 3,50 a R$ 50, aproximadamente. Os ingressos custam R$ 78, adquiridos antecipadamente pela internet, com direito ao transporte até as estações que dão início às atrações oferecidas.
Já na trilha terrestre, a visita também leva em torno de duas horas, porém em uma caminhada de cerca de 1,2km que oferece uma vista panorâmica deslumbrante das cataratas em diversos ângulos e enquadramentos. Aos menos aventureiros que fugiram do safári aquático, há a garantia de que essa não é uma jornada perigosa: o caminho é todo cercado e há paradas estratégicas para assegurar as melhores fotos, sem nenhum risco. Mas as roupas confortáveis devem ser priorizadas, já que a temperatura pode esquentar ao longo da caminhada. E não esqueça a garrafinha de água, claro.
A capa de chuva é um item indispensável para visitar as Cataratas do Iguaçu. Na medida em que as pessoas se aproximam mais do ponto onde as quedas estão mais fortes, os respingos vão se tornando maiores e inevitáveis. A época do ano deve ser observada com atenção: no período chuvoso, o volume das águas pode aumentar em até dez vezes. Especialmente no final do circuito, onde está a passarela suspensa de cerca de 670 metros que nos leva à base inferior da suntuosa Garganta do Diabo.
Gigante pela própria natureza, tal qual o verso descrito no Hino Nacional Brasileiro, a cortina fluvial que surge do cânion parece que vai nos sugar com a potência das águas que se derramam de uma altura de 82 metros e 150 metros de largura, trafegando em uma impressionante correnteza por baixo dos nossos pés. Mas não se deixe amedrontar. Neste ponto final do circuito, a experiência é única, imperdível e indescritível.
Para todos os lados que se olha nessa travessia, a visão das cataratas brasileiras é um deleite. Em um cenário que nos remete ao que ilustraram em nosso imaginário como o Jardim do Éden, no Parque Nacional do Iguaçu temos a constatação do quão vigorosa é a obra divina. A robustez das quedas d´água, que parecem surgir do céu, formando um rio que se molda com precisão entre as pedras e os montes, é um espetáculo que emociona. Em dias ensolarados, o arco-íris é uma presença constante na paisagem magnífica que se forma, trazendo ao instante esse sentimento que se aproxima da contemplação do sagrado. Desfrutar essa imagem, definitivamente, é uma benção.
Tríplice fronteira
Visitar Foz do Iguaçu é também uma oportunidade rara de vivenciar a experiência de estar no local que marca o encontro de três nações. Sendo o Brasil um país de proporções continentais, as divisas com territórios vizinhos são comuns, mas a tríplice está no Paraná. E o Marco das Três Fronteiras é uma parada obrigatória para os turistas.
Eleito pelo Tripadvisor como uma das melhores atrações turísticas do mundo, por meio do prêmio Traveller’s Choice 2023, o charmoso local — que em 2023 já recebeu mais de 300 mil visitantes ao custo de R$ 48, com políticas de meia-entrada —, oferece um ambiente repleto de história e cultura, com apresentações artísticas, gastronomia múltipla e uma vista exuberante dos rios Paraná e Iguaçu, que dividem o Brasil, respectivamente, com o Paraguai e a Argentina.
Momento preferido de famílias e casais apaixonados, o pôr do sol é uma das mais gratificantes paisagens oferecidas. Assim como nas cataratas, haverá fotógrafos profissionais a postos para fazer os melhores cliques. Quem não estiver disposto a desembolsar uma quantia considerável por uma foto impressa, contudo, pode usar e abusar dos celulares e das câmeras próprias. O importante é fazer uma pose bonita e deixar que as lentes capturem o filtro que a natureza faz por si só.
Fora do reduto privado do Marco das Três Fronteiras, a poucos quilômetros, a monumental roda gigante também é uma pedida. Da mesma empresa da atração instalada no Rio de Janeiro, com 36 cabines climatizadas que comportam até oito pessoas cada, do alto dos 88 metros, a visão das três fronteiras é um privilégio. O passeio custa R$ 80, mas é possível fazer o circuito panorâmico várias vezes. No ápice, faça o clique do T que se forma unindo as terras das três nações.
Na Ponte da Amizade, que cruza o Rio Paraná e dá acesso a Ciudad del Este, não há sequer exigência de documento de identidade. Já para quem deseja dar um pulinho a Puerto Iguazu — que é onde se localizam as estonteantes cataratas do lado dos hermanos —, é obrigatório que se apresente o documento de identidade. No caso do RG, é preciso ser com validade menor que 10 anos. Nos dois destinos, o real é aceito, mas é possível efetuar o câmbio monetário em diversas agências presentes no centro da cidade paranaense. Calcule a cotação e faça a melhor opção.
Puerto Iguazu
Para chegar à fronteira argentina, o turista tem duas possibilidades: automóvel e ônibus. Existe a opção de linhas de coletivos urbanos que partem do centro de Foz do Iguaçu em direção a Puerto Iguazu, que custam em torno de R$ 10. Carros por aplicativo costumam cobrar caro para fazer a travessia, mas os táxis do outro lado são bem acessíveis, então a dica é seguir com o motorista brasileiro até a aduana e, de lá, pegar uma outra corrida. De qualquer forma, seja de veículo próprio, seja de transporte pago, há a necessidade de saltar para passar pelo trâmite imigratório. Nada complicado, apenas um registro prático de entrada no país. Ainda que o Brasil ofereça as melhores paisagens, a Argentina possui a maior porção das Cataratas do Iguaçu e presenteia a experiência mais extensa e radical ao turista. O acesso ao parque ecológico é mais complexo e caro (cobra-se em torno de 10 mil pesos argentinos), então optamos por não incluir essa parte no roteiro. Reservamos uma diária de um hotel na cidade com o objetivo de vivenciar uma noite argentina. E foi uma excelente pedida.
A cidade de pouco mais de 100 mil habitantes tem uma pegada parecida com a de Pirenópolis. Caminhando a pé pelas ruas modestas de casas populares contornadas por praças com igrejas e hospitais, vamos percebendo o aumento no número de bares e restaurantes com mais estilo até que chegamos a uma região muito similar à Rua do Lazer da nossa vizinha goiana. É uma via extensa, totalmente fechada para carros e repleta de estabelecimentos voltados para a gastronomia. Contrastando com a atmosfera pacata da cidade, a temperatura humana ali aumenta e a vida ferve a partir das 17h até a madrugada. É a oportunidade de se deliciar com a famosa culinária local e ainda apreciar alguma apresentação de tango.
É nesse horário noturno que funciona, por exemplo, a famosa feirinha de Puerto Iguazu. Entre uma gama variadíssima de iguarias, é possível degustar e levar para casa os queridinhos do pedaço: azeitonas e vinhos. Sério: são baratíssimos. Uma garrafa de vinho — de qualidade — servida em uma mesa de restaurante pode ser adquirida por R$ 30, para se ter uma ideia. Por ali, é possível, ainda, visitar um dos vários cassinos disponíveis. Com a jogatina permitida por lei, esses espaços costumam ser bem frequentados. Não espere, entretanto, nada que se aproxime de uma experiência em Las Vegas. A proposta chega mais perto dos caça-níqueis clandestinos que persistem em solos brasileiros.
Exatamente na divisa dos países, existe um Duty Free, outra atração que o local oferece, com acesso a partir das 12h. Não é, entretanto, uma opção muito viável para compras. Se o seu objetivo for adquirir produtos mais baratos, guarde suas economias para o Paraguai. Volte para Foz — não sem antes comer uns alfajores — e siga o roteiro rumo à última vértice desse triângulo sul-americano.