Patrick é daqueles cariocas indefectíveis. Nascido e criado em Olaria, subúrbio da Leopoldina, aproveita as férias de fim de ano para promover uma pelada beneficente no bairro, reunir os amigos de infância, organizar o churrasco com pagode na calçada.
Em dezembro de 2018, colocou os amigos boleiros para jogar debaixo de um sol escaldante na Arena Furão, um campo soçaite que fica na rua onde cresceu. Entre eles, estava Bruno Henrique, com quem jogou no Goiás, que ali conheceu pela primeira vez o calor humano da torcida do Flamengo — seu nome começava a pipocar como alvo do rubro-negro para a temporada seguinte.
Neste domingo, o volante do Internacional entrará em campo no Maracanã atrás do título brasileiro na cidade para qual nunca deixou de voltar, mas que não o consagrou no futebol. Coisas da vida.
Rubro-negro quando criança — ironicamente a maior conquista da carreira pode sair justamente contra o Flamengo —, logo o garoto resolveu investir na carreira de jogador. Os primeiros chutes foram na rua, como todo bom menino do subúrbio. Os seguintes, no futsal. Em 2005, passou pelo Madureira, sob os cuidados de Luizinho Ganança, então técnico da equipe sub-13.
— Era um bom menino, muito habilidoso e fominha (risos). Tínhamos um time muito bom e ele era reserva. Depois do Carioca, foi para o Olaria. Não tive mais notícias dele e só fui reconhecê-lo muitos anos depois, no Goiás.
O tempo em Conselheiro Galvão foi curto. Depois da derrota na final do Carioca para o Vasco de Philippe Coutinho, o Madureira trouxe o futuro jogador do Barcelona e mais outros dois alas pela esquerda — posição de Patrick —, para a disputa do Estadual. Gananza acredita que a vinda do trio foi o motivo para a saída do menino que não tocava a bola.
Acabou sendo boa a transferência para o Olaria, onde teve mais oportunidades. No clube, bem mais perto de casa, pode ficar próximo dos amigos. Destaque nas categorias de base da Rua Bariri, tinha direito a frequentar a piscina social, a melhor da região. Foi garoto, no futsal do Azulão, que conheceu Henrique, lateral-esquerdo do Vasco, que esteve na mesma pelada que Bruno Henrique.
O mundo da bola é um ovo e logo o nome de Patrick começou a correr por descobridores de talentos e empresários. Só não chegava a um dos quatro grandes do Rio. Do Olaria, foi jogar pelo hoje extinto time da Estácio. Na época, era treinado por Fernando Santos, então técnico do juvenil, que viu seu talento desabrochar mais.
— Patrick já tinha habilidade e muita força física na época. Utilizei o jogador também como ala também, ele tinha esse potencial — afirmou, antecipando a versatilidade que se tornaria uma das virtudes do jogador.
Um belo dia, antes que se profissionalizasse, deixou deixou a Estácio e ganhou o mundo, foi jogar nas divisões de base do Operário, do Paraná. O que aconteceu depois disso é história — ele rodou pelo futebol do Sul, jogou no exterior, teve destaque no Goiás e no Sport. O menino de Olaria virou o Patrick do Internacional e neste domingo pode ser campeão brasileiro. Às vezes, o caminho da Arena Furão até o Maracanã pode ser bem mais longo do que os 10km do mapa.