FINADOS, UMA REFLEXÃO
Paulo Azevedo
Hoje li que a nossa maior atriz de todos os tempos, Fernanda Montenegro, aos oitenta e oito anos, pensa na morte todos os dias. Não penso todos os dias, mas, às vezes, me pego pensando no derradeiro fim.
Nossa única certeza é ela, para qualquer um ela chegará. E, enquanto não chega, o que faremos? Que somos cadáveres adiados isso, alguém já disse, como também que tem gente que morre em vida. Resta-nos viver bem.
Acredito, por conta da minha mãe, que a cada mágoa, cada raiva, cada discussão vazia, cada mentira que machuca, cada cena de ciúme doentio, cada maldade, cada passarinho preso na gaiola, cada cachorro chutado, e a cada traição, a gente mata e morre aos pouquinhos, pequenas mortes.
Já parou para pensar quanto de falta fará quando se for? Somos insubstituíveis? Alguns sim, outros não. O que deixarei de relevante? Assusta? Muito.
Passar por esta vida em branco dá medo e aproxima da morte. Não precisamos fazer uma grande obra, tornar-se famoso, basta sermos nós mesmos. A morte se interessa por todos.
Viver bem, para morrer bem!