Longa da sessão hors concours de encerramento do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, o documentário Diálogos de Ruth de Souza será exibido, hoje, a partir das 18h. Um filme que fala sobre o passado, mas conversa muito com o presente do Brasil e que dá o palco para a primeira mulher negra do país a superar todos os obstáculos para dominá-lo.
Ao Correio, Juliana Vicente fala sobre a influência de Ruth de Souza para a arte e a importância de ecoar as palavras dela no encerramento do 55º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
Entrevista // Juliana Vicente
Qual a importância de falar sobre Ruth de Souza na atualidade considerando o mundo em que vivemos e o histórico de luta dela?
A Ruth foi uma pioneira nas artes, ela foi a primeira atriz brasileira a se apresentar no Teatro Municipal do Rio de Janeiro e a primeira atriz brasileira a ser indicada a um prêmio internacional (no Festival de Veneza). Como atriz, ela já foi única. Como atriz e mulher negra, ela foi um fenômeno. Falar da Ruth com a Ruth é parte de um movimento essencial para a gente, é a afirmação de contar as nossas narrativas, dos nossos, com os nossos para os nossos. E isso é apenas a ponta do iceberg. Falar da Ruth é contar parte da nossa história para as próximas gerações, mas é também poder falar para as gerações anteriores sobre as conquistas delas e mostrar que vamos, sim, desfazer esse apagamento histórico sofrido.
Ruth de Souza é uma figura histórica para o Brasil. O que você acha que o país ainda precisa aprender com ela?
Acredito que uma das coisas mais importantes que temos que reconstruir no Brasil é a nossa história, porque construída obviamente ela já foi, mas também apagada. E sabemos da importância no desenvolvimento de um país onde todos conheçam a própria história, a história de uma perspectiva mais honesta. A Ruth sabia da importância do registro, ela se registrou por 98 anos. Temos imagens da Ruth criança, adolescente, nos primeiros passos no Teatro Experimental do negro, em Nova York, recebendo prêmios, atuando em projetos na Globo, em festas exclusivas e etc. E praticamente todas as imagens vieram do acervo pessoal da Ruth. Eram dezenas de pastas. E ela não se calou, ela contava a história dela e mostrava através dessas imagens, já que apesar de quase 60 anos de carreira, as imagens de arquivo de artistas pretos no Brasil, são muito escassas. Isso foi fundamental para o filme.
Sobre fechar o festival em um ano tão significativo para o Brasil. Como você vê esse filme encerrar um evento tão relevante para o cinema brasileiro?
Olha, a Ruth falava o quanto ela sentia falta de na velhice, em um momento de hiato, de ser convidada para os festivais. Nos anos finais, ela estava sendo celebrada, inclusive como tema de samba enredo da Acadêmicos da Santa Cruz, uma das maiores honras para uma personalidade brasileira. Mas o cinema era o amor da vida da Ruth, então, para mim, participar e fechar o Festival com ela é honrar a história e desejos da Ruth. E estar com dois documentários estreando este ano, que falam tanto da construção da nossa história, de construção real, feita no dia a dia, por pessoas que ultrapassaram todos os limites impostos para levantar legados, é mais uma sincronia. Ter o Diálogos com Ruth de Souza encerrando o festival em 2022, reflete esse momento de renovação de esperança nesse caminho de permanência da construção.
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