A arte de dançar, vestir roupas a caráter e permitir com que a liberdade através dos ritmos musicais e a felicidade do público os contagie. Os quadrilheiros juninos são peças fundamentais para que os arraiais aconteçam. Mas, não somente isso, eles fazem parte de algo muito maior. Um motivo de vida, que é uma realização. Encarado por muitos com seriedade, porém, sem deixar de enxergar o prazer nas expressões artísticas, que ecoam para muitos como uma maneira de trazer à memória dos brasilienses a importância das festas juninas.
Tradição familiar
Uma história de veia nordestina e um amor especial. Desde criança, Tamires Oliveira de Quadros, 32 anos, leva as festas juninas no ritmo dos pés e no compasso do coração. Uma paixão passada pelos pais e impulsionada pelos irmãos que, juntos, fundaram a quadrilha junina Xem Nhem Nhem. "Estou no movimento há 15 anos. Tudo isso acompanhando a minha família. Infelizmente faz 14 anos que meu pai morreu. Ele também fazia parte da produção", conta a moradora de Santa Maria, que também é dançarina, maquiadora e organizadora.
Ao lado dos familiares, a secretária administrativa, que veio do Maranhão, relata que quando mais novos os pais adoravam esta época do ano, marcada pelo forró e a gastronomia de dar água na boca. O sentimento pela dança é tão grande que Tamires se apresentou até mesmo quando estava grávida, dois dias antes do nascimento do primeiro filho, em 2011. Ainda que a rotina seja cansativa e o trabalho de pré-projeto se inicie oito meses antes dos tradicionais arraiais, ela não pensa em deixar de lado a arte que tanto lhe inspira e continua a motivá-lo todos os dias.
SAIBA MAIS
Amor pela dança
Conhecido no cenário junino do DF e um dos melhores coreógrafos do Brasil, Michael Douglas Pereira da Silva, 31, é líder da quadrilha junina Coisa da Roça, fundada em 1993 e já foi eleito o segundo melhor marcador de quadrilhas do Brasil — aquele que fica à frente da equipe animando os brincantes. Um sentimento que surgiu na escola e transcendeu para o bairro em que morava e o levou ao lugar em que se encontra hoje. Um completo apaixonado pela dança. A rotina, que é cansativa, não o abala. Sem tempo para outras atividades, vive os arraiais antes da época e, quando chega o São João, as apresentações são praticamente diárias.
No começo, os pais de Michael não gostavam muito das quadrilhas. Mas, de tanto levá-lo com os irmãos para as danças, eles acabaram se inserindo no meio também. A mãe, inclusive, é a presidente da equipe desde 2002. Na época, o morador do Paranoá ainda não podia se apresentar ao lado dos mais velhos, mas dava os primeiros passos com o grupo mirim. "Em 2004 comecei a dançar com os profissionais, depois de três etapas da liga de dançarinos o então marcador saiu no meio do concurso regional. Sem dançarinos para marcar a quadrilha, acabei assumindo", descreve.
Mesmo com medo, Michael prosseguiu no sonho e desde 2005 nenhuma pessoa conseguiu tirá-lo do posto de marcador da equipe junina. Mas, sempre transitando em posições, o autônomo também foi coreógrafo. Hoje, ele é o principal líder de uma das quadrilhas juninas mais conhecidas do Distrito Federal. Ao falar sobre a felicidade em se apresentar, o morador do Paranoá, com o olhar brilhante, não esconde que deseja continuar levando a alegria da arte para o público que o prestigia pelo resto dos seus dias.
Dançantes
Amante de expressões artísticas e dançarino de vários ritmos, Eduardo Barros, 21, um dos dançarinos da quadrilha junina Coisa da Roça, está no grupo desde 2018. No palco, ao lado da equipe, é o lugar em que ele mais se sente feliz. Mesmo com os dias apertados, o auxiliar administrativo transita entre o trabalho, outras atividades, os ensaios e apresentações. Ainda que as dificuldades persistam, o morador de São Sebastião não se enxerga fazendo mais nada da vida. "A sensação de dançar é animadora. É uma energia muito massa", explica Eduardo.
De dançarino a presidente
O sangue junino ajudou Márcio Nunes, 37, a viver a arte proporcionada pelos arraiais. Os irmãos fundaram o primeiro grupo em que o morador de Ceilândia participou. Com 7 anos, quando via as danças, mas não podia entrar ativamente, gravava no olhar a vida que, para ele, é a que valeria a pena. Depois de atingir a idade necessária, aos 16, deu os primeiros passos rumo às apresentações e o forró aconchegante. Logo depois, começou a se destacar e encarar com cada vez mais seriedade o movimento artístico. Se tornou diretor e, em seguida, presidente de uma quadrilha junina.
Não satisfeito, Márcio queria mais. Começou sua trajetória no movimento junino e se tornou o primeiro presidente mais jovem da liga de quadrilhas juninas da capital federal. "Essa é a paixão que sempre uniu minha família", destaca ele. Hoje, é responsável pela Liga de Quadrilhas Juninas do DF e do Entorno (Linqdfe) e ajuda a organizar o circuito que traz as melhores equipes de Brasília para uma competição distribuída em oito regiões administrativas.
Com a volta das festas, ele se diz assustado com o público pois a presença das pessoas superou todas as expectativas. No dia dos arraiais, as filas para prestigiar as apresentações são comuns. Mesmo com o esforço necessário e todo o trabalho que envolve a pré-produção na organização do evento, Márcio se diz muito feliz. "Temos em torno de oito meses para fazer e escrever o projeto. Corremos atrás de recurso, emenda parlamentar. Conversamos com autoridades das cidades e o secretário de Cultura", ressalta. Tudo isso, segundo ele, para preparar o melhor modelo, que tem como objetivo levar alegria ao quadradinho.
*Estagiário sob a supervisão
de Márcia Machado