Praia de Paripueira
Pablo Victor Gagliano nasceu em Cruz Alta, Rio Grande do Sul, criança bonita de chamar atenção, um bebê rosado, lourinho de olhos verdes. Na juventude era cortejado pelo mulherio, as moças e coroas se apaixonavam ao conversar com aquele rapaz elegante, gentil e bonito.
Ao formar-se em engenharia química foi convidado para trabalhar numa indústria instalada em Maceió. Ele apaixonou-se pela cidade, nunca havia imaginado uma cor do mar tão bela, as praias, um paraíso cheio de coqueirais, ficou morando na bela terra do poeta Lêdo Ivo, de quem era fã e já havia lido seus livros. As jovens da cidade caíram em cima de Pablo. Além de bonito e educado, ele tinha um comportamento exemplar. Não era chegado às noitadas, nem às farras com garotas de programa comuns ao pessoal da terra. Era o genro que toda mãe deseja. Sua vida de solteiro não durou muito, apareceu Regina, uma bela morena de cabelos cacheados, lábios grossos e de uma simpatia contagiante. Ele rendeu-se aos encantos da moça e casou-se em numa festa de arromba, como quis Dona Mercedes, sua sogra.
Pablo em pouco tempo fez um pé de meia e construiu sua casa de praia na belíssima Paripueira, sua paixão. Uma casa grande onde nas férias levava seus dois filhos, passava todo o verão, não perdia a alegre e tradicional Festa de Santo Amaro, início de janeiro, com muita música, bebida, folguedos e quermesse da Igreja.
Quando os filhos se tornaram adolescentes preferiam ficar em Maceió. Era um desgosto para Pablo. Por conta disso ele transformou sua enorme casa numa pousada. Há alguns anos ele a administra em fim de semana. Às vezes Regina prefere ficar em Maceió, entretanto, ele sempre vai fiscalizar os serviços na pousada por Dona Cícera, a arrumadeira, e pelo jovem Gerson, administrador, porteiro, faz tudo da Pousada Cruz Alta.
Regina sempre foi ciumenta, mesmo sem Pablo dar motivos. As mulheres olham com admiração e excitação para seu lindo marido, às vezes se insinuando, afinal o cara é um tipão de coroa, porém, o comportamento dele é exemplar.
Pablo, de repente, ficou relaxado com os deveres conjugais junto à esposa. Só faziam amor quando Regina insistia, o que a deixou encucada. Até que, certo dia ela leu numa revista que o primeiro sintoma de um homem que está traindo é a frieza sexual com a esposa.
Regina procurou Audálio, detetive especializado, no Edifício Breda. Depois de um mês de investigação seguindo o suspeito, ele nada encontrou. Mostrou fotografias do marido no trabalho, nas ruas, na pousada, tomando banho de mar, sempre desacompanhado. Durante as noites que ela não o acompanhava, ele dormia sozinho em Paripueira. O experiente Audálio concluiu que o marido estava passando apenas por uma fase sem entusiasmo, embolsou o dinheiro combinado e entregou-lhe as fotos. Regina não ficou contente com as investigações. Ela sentia no corpo e no comportamento a mudança do marido.
No início de janeiro, Regina inventou que não podia acompanhar o marido à Festa de Santo Amaro em Paripueira, pediu desculpas por não ir. Ele disse que não havia problema e partiu feliz da vida para seu paraíso.
Ela percebeu essa alegria no ar. Deixou o maridão viajar. Ao anoitecer, sem avisar, partiu célere em busca de um flagrante do marido com alguma sirigaita. Eram sete da noite quando Regina entrou na pousada perguntando pelo esposo. Dona Cícera e o administrador, o jovem Gerson, disseram que estava no quarto assistindo televisão. Regina bateu à porta com força, Pablo custou a atender. Assim que abriu, a esposa entrou de repente perguntando quem estava com ele, queria conhecer a puta de seu marido. Pablo ficou assustado. Regina procurou no banheiro, armário, guarda-roupa, quando percebeu que ele estava sozinho, começou a chorar. Só parou quando foi consolada pelo paciente marido. Dormiram na pousada, Pablo nessa noite empenhou-se em suas obrigações conjugais.
No dia seguinte, Regina depois do almoço retornou à Maceió. Pegou suas coisas e partiu. Quando dirigia pela estrada, no meio do caminho, lembrou que havia deixado os óculos escuros que havia comprado na Alemanha. Retornou imediatamente. A porta do quarto não estava na chave, ao abrir, surpreendeu-lhe a cena chocante. Seu belíssimo marido estava abraçando o administrador Gerson, alisando seus cabelos, beijando seu rosto. Regina avançou que nem uma leoa deu uma tapa no marido, saiu correndo, tomou o carro retornando para sua casa.
Regina hoje, um ano depois, mudou seu modo de vida, não se sabe se por vingança ou por prazer. Quem quiser encontrá-la todo fim de semana está nas baladas de Maceió, dançando, bebendo, namorando.