Capiba e Fernando de Castro Lobo
Jamais pude imaginar que decorrido meio século depois escutaria dos lábios de Fernando Lobo (pai do grande cantor e compositor Edu Lobo) uma história tão impressionante sobre uma viagem de vapor do Recife ao Rio. Noite em que por coincidência eu estava no mesmo lugar.
Capiba e Fernando seguiriam para o Rio de Janeiro e quando prestes a subir a escada do navio chegaram umas distintas senhoritas da alta sociedade, amigas deles, com um pacote grande, embrulhado para presente.
Disseram ser uma caixa, contendo um “Bolo Souza Leão” para eles fazerem o favor de entregá-la a umas primas delas que estariam no cais do Rio, esperando. E que eles não teriam trabalho nenhum de ir levá-la na Tijuca.
Eu contava seis anos. Era minha primeira vez a um cais de porto. Fora levar tia Tereza para embarcar. A cena jamais me saiu da mente, quando, em outra cena, ao longe, o barco se fez ao mar, sem que ao menos tivesse faróis dianteiros, como os automóveis. Parecia uma panela de ferro boiando na escuridão.
Contou-me Fernando que no cais do Rio, para recebê-los os estavam as moças que foram recepcioná-los.
Mas o “porém” é que durante a demorada viagem de cinco dias, começou a aparecer formigas, saindo do pacote, causando complicações no camarote. A solução que os portadores viram foi abrir a escotilha e jogar a caixa no mar. Afinal, era apenas um bolo!…
Mas ocorre que não era.
Frenéticos acenos partiam no porto do Rio de Janeiro na chegada do enorme barco de ferro, que foi amarrado no cais. Lá estavam as moças, donas do pacote, acenando alegremente, indicando que eram elas que estavam credenciadas para o recebimento.
Capiba e Fernando não tiveram outra alternativa a não ser contar a verdade: haviam jogado a caixa ao mar, porque havia formigas.
Eis que logo se ouviram choros e comentários ácidos, alusivos à irresponsabilidade dos dois rapazes.
– Vocês não poderiam ter feito isto! Ali estavam os ossos de papai!…
Fazer o que?…