10 de maio de 2020 | 05h00
A notícia dos cancelamentos das versões físicas das semanas de moda internacionais chegou cedo. Com as grandes capitais da moda mundial sendo afetadas pela crise de saúde pública causada pela pandemia, as organizações responsáveis pelos desfiles das coleções resort, moda masculina e alta-costura anunciaram, no final de março, que ocorreriam alterações drásticas nos calendários. Agora, dois importantes polos fashion se preparam para colocar em prática as novidades, com a realização de semanas de moda digitais.
Londres será a primeira cidade com eventos nesses moldes. O British Fashion Council, organização responsável pelo evento na capital inglesa, irá manter as datas originais da London Fashion Week de forma online, sem a realização de eventos físicos. “Estamos adaptando a inovação digital para melhor atender às nossas necessidades e para construir uma vitrine global para o futuro. Os estilistas poderão compartilhar suas histórias e coleções com uma comunidade global mais ampla. Esperamos que, além de perspectivas pessoais sobre este momento difícil, haja inspiração em abundância. É por esse motivo que a moda britânica é reconhecida”, declarou Caroline Rush, CEO do conselho de moda britânico, à plataforma WWD.
As coleções masculinas e femininas serão reunidas em uma mesma plataforma digital que será lançada no dia 12 de junho com conteúdos em vídeo, fotos e podcasts. Além de ser uma vitrine virtual, a novidade também trará oportunidades para as marcas venderem suas novas coleções para os compradores de boutiques e lojas de todo o mundo.
Em um formato similar, a Câmara Nacional da Moda Italiana divulgou esta semana um comunicado oficial sobre a realização de um evento virtual entre os dias 14 e 17 de julho. Os organizadores do chamado Milano Digital Fashion Week prometem mostrar não só as novas coleções, mas também o backstage da moda, com imagens e entrevistas que irão falar mais sobre cada marca participante. O evento ocorrerá em torno de um cronograma com horários definidos para a apresentação de cada marca e, assim como a semana britânica, também trará oportunidades de negócios.
Nos Estados Unidos, os eventos de moda programados para setembro estão mantidos. A principal alteração oficial anunciada até o momento é a junção das apresentações das coleções masculinas e femininas. “A unificação do calendário é importante como uma forma de colaboração e inovação”, explica Simone Jordão, consultora e curadora brasileira do Show Coterie NY, principal feira de negócios de moda dos EUA.
O movimento digital surge também como uma importante solução para as feiras que comercializam coleções para multimarcas. Os desdobramentos da pandemia provocaram uma retração do mercado que afetou principalmente os pedidos para o Inverno 2020. A Coterie, uma das mais importantes feiras B2B do mercado da moda, registrou queda de 50% nos pedidos de compras. No entanto, a feira caminhava em direção ao digital antes da crise e os números mostram grande adesão por parte dos compradores.
O aplicativo criado pelos organizadores registrou 50 mil acessos, enquanto o número de visitantes no evento físico, em fevereiro, atingiu 13 mil pessoas. “A experiência digital já era presente na Coterie. Tínhamos um app em que os compradores podiam sair do show e descobrir mais sobre a marca e ver o lookbook digitalmente”, diz Jordão, sobre a incorporação da tecnologia no evento.
No Brasil, a edição da São Paulo Fashion Week, que deveria ter ocorrido entre 24 e 28 de abril, não aconteceu. Até agora, a edição marcada para o dia 16 de outubro segue confirmada no calendário em sua forma física. “Sempre acreditamos na moda como um movimento vivo e orgânico, que se transforma com o tempo, como de fato é o princípio da moda”, comenta Paulo Borges, idealizador e diretor criativo do evento. “O SPFW foi a primeira semana de moda no mundo a transmitir os desfiles ao vivo pela internet, isso ainda em 2001”, complementa.