Não é difícil notar um quê de tristeza, no semblante de uma grande parte do povo brasileiro, decepcionado com o desfecho que tomou a cena política do nosso País.
Desde os tempos coloniais, impera no Brasil o hábito da falsa dádiva. A bondade, exercida com o dinheiro público, dá a impressão de que a produção da riqueza não pertence ao povo brasileiro. O poder público é obrigado a fazer o bem à sociedade. O que não pode é distribuir migalhas ao povo, como se estivesse dando esmolas.
A riqueza do País pertence ao povo. Os ladrões de colarinho branco não podem abocanhar o dinheiro público, como ratos famintos abocanham o queijo.
É comum, nas bocas e mãos dos que manipulam as vantagens dos cargos, funções e mandatos, a benevolência cômoda, como meio de promoções pessoais, para que aparentem grandes governantes.
Se hoje precisam ser mais cuidadosos, com as faturas controladas por lei, ainda restam os detritos de uma civilização, nutrida pelo estado, com o uso e abuso de artifícios, que promovem o culto pessoal e transformam o que é dever constitucional em falsa bondade.
Quantas vezes, os homens públicos são benevolentes com o povo, como se estivessem fazendo favor ou dando-lhe esmola! Na realidade, não fazem mais do que sua obrigação. Afinal, na hora solene da investidura ou posse, nos cargos que a sociedade lhes concede por voto ou nomeação, os políticos prestam compromissos legais, prometendo o bem comum ao povo.
Há muito tempo, a aspiração política abandonou o espírito público e foi substituída pela vaidade e ganância. O exercício do mandato, que deveria ser um bem à sociedade, deixou de ser atributo de transparência e equilíbrio, O dever de bem servir ao povo passou a ser meta e não compromisso. É como se o governante não tivesse obrigação nenhuma com o povo, e pudesse usar os cofres públicos ao seu bel prazer, ignorando a obrigatoriedade legal da transparência e usando o poder como um instrumento de culto à personalidade.
A sociedade passou a ter líderes artificialmente nutridos nos seus egos, com faturas para os cofres públicos. A vaidade faz com que os políticos, ditos representantes do povo, projetem a imagem de si mesmos, nas horas mais importantes do sistema político. E tudo diante de uma sociedade que somente agora parece dar os primeiros sinais de uma impaciência, que chega às ruas na forma de desabafos ideológicos ou sinais de revolta.
É difícil calar a boca dos revoltados, vestidos de verde-amarelo. E a crise que queimava em fogo brando, agora ferve.
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Mudando o rumo dessa prosa, e rememorando o recentemente falecido Edson Arantes do Nascimento, hoje chamado “Rei Pelé”, que tantas alegrias proporcionou ao Brasil, segue um fato verídico, ocorrido com ele, no auge de sua brilhante carreira de jogador de Futebol:
“EXPULSO O JUIZ QUE EXPULSOU PELÉ
No jogo entre o Santos F.C. e a seleção Olímpica da Colômbia, realizada em 17.7.68, em Bogotá, que foi repleto de incidentes, o árbitro Guillermo Velasquez expulsou Pelé no primeiro tempo. A torcida colombiana reagiu e exigiu a expulsão do juiz, o que foi feito depois de 15 minutos de interrupção, sendo ele substituído pelo bandeirinha Omar Delgado.
Em seguida, a massa presente ao estádio exigiu a volta de Pelé, medida que foi determinada pelo novo árbitro, ainda no primeiro tempo. Em retribuição, Pelé teve uma atuação de gala e o Santos venceu por 4 X 2..
(Em “FUTEBOL TEM CADA UMA” – Armando M. Graça – Editora GOL- 1968).