Naquele tempo, o manda chuva dos romanos era um tal de César Augusto, e ele mandou fazer um apurado de todo filho de Deus que fizesse sombra nas terras do império.
Como José era aparentado com o Rei Davi, tinha que fazer a ficha em Belém, que era a terra da família dele. Por conta disso, José e Maria, que moravam em Nazaré, tiveram que juntar os mulambo e se mandar pra Belém.
Só que Maria já tava com o bucho pelas goela, por isso perigava do menino nascer no meio da viagem. E foi só o que deu: quando foram chegando em Belém, Maria já tava se vendo de dor.
Aí foi que deu o maior bode, porque a cidade tava lotada desse povo que foi fazer a ficha que o imperador tinha mandado. Porque naquele tempo era assim, quando o imperador mandava, não queria nem saber quem foi que envernizou barata. Era a língua ou o beiço. Ou o cabra cumpria a ordem ou a chibata comia.
José foi em tudo quanto era hotel, pousada e casa de família, pedindo um canto pra se ajeitar com Maria, mas foi o mesmo que dar um tiro n’água. O povo dizia que não tinha lugar nem pra um cibite fastioso.
Naquele aperreio, com Maria em tempo de parir no meio da rua, o jeito foi passarem a noite numa palhoça onde dormiam uns bichos de criação. Vaca, jumento, Carneiro, essas coisas.
E foi ali mesmo que o menino Jesus nasceu. Aí Maria pegou o bichim e deitou ele na gamela que botavam comida pros bichos.
Nisso, uns pastores que tavam numa capoeira ali perto levaram um susto lascado, porque apareceu lá um anjo dando o serviço do nascimento de Jesus:
– Ei, magote de macho mole, deixe de froxura! Vocês tão vendo é um anjo, não é uma moto com dois vagabundo em cima não! Vim aqui só passar o bizu pra vocês que em Belém, nasceu agorinha o cabra mais pedra noventa que esse mundo já viu ou vai ver. O menino é liso! É o Salvador! É o Cristo! Tá lá numa palhoça, deitadinho numa gamela de dar ração pros bicho, todo enroladinho nuns mulambo.
O anjo tava nessa conversa, quando outros anjos chegaram botando moral:
– Bora, macho! Termina esse leriado aí. Tu conversa muito!
E os anjos pegaram o beco. Depois, os pastores tomaram cada um uma garapa de açúcar, pra passar o nervoso, e meteram o pé no rumo de Belém.
Os pastores ficaram abismados quando viram o menino Jesus dormindo na gamela do boi. Mas acreditaram no que os anjos tinham dito e ficaram ali rezando.
Depois teve a visita dos reis magos. Uns cabra que vieram lá da baixa da égua com uns agrado pro menino Jesus. Mas aí já é outra parte da história.