Pequeno Príncipe e a raposa olhando o pôr do sol
“Quando a gente está triste demais, gosta do pôr de sol”. (Antoine du Saint-Exupèry)
Jamais serei poeta.
Nada tenho contra esses privilegiados. Louvo-os!
Eu não sei fazer rima. Nem versos. Nem poesia.
Mas, a vida me ensinou a contar estrelas.
Já contei milhares delas.
Para cada uma, dei um nome – já tenho mais que um Cruzeiro do Sul.
Converso com elas. As estrelas.
Com algumas, até já convivi.
Com a limpidez do céu da noite, quando estou triste pego um caderninho e rabisco uma poesia……. minto!
Conto estrelas, quando estou triste.
Até a insônia me permite contar estrelas que vejo e cumprimento como fazem os beija-flores em voos rasantes de reconhecimento.
Conto estrelas, quando estou triste.
Em vários momentos, a insônia me entristece – por isso, conto estrelas.
Tanto quanto o Pequeno Príncipe e a Raposa gostam de ver o pôr do sol, todo fim de tarde, a insônia me impõe a tristeza – por isso, conto estrelas.
Também!
Vem-vem – o poeta
Todo fim de tarde, quando muitos estavam vendo o pôr do sol – um verso poético que se repete em várias partes do mundo, com a mesma rima – olhando para onde o sol nasceu ao amanhecer, vejo aquela árvore com galhos secos e desfolhados, sem rima, mas poeticamente recebe a esperança no cântico do vem-vem.
Para entender cada verso e toda a rima daquela poesia, é preciso estar triste.
Vem-vem canta a minúscula ave, enchendo de esperança a tristeza de quem espera a chegada de alguém. Que, às vezes, não vem.
Como o céu nublado no fim de tarde que não permite ver mais um pôr do sol, ou a chuva que não permite olhar (e contar) estrelas, o vem-vem canta sem saber que alguém não vem.
Mas amanhã e depois, em muitos fins de tarde, o vem-vem vai fazer poesia.
Cantando!
Mãos fazendo a poesia da debulha do milho
A terra recebe a semente semeada. A terra ajuda a semente semeada a nascer e a crescer, dia após dia. Verso após verso – com a rima da chuva, faz o milagre poético da colheita. As etapas, são versos rimados em poesias conclusas. Em sementes.
A colheita é a poesia da multiplicação da semente.
Tanto quanto o Pequeno Príncipe e a Raposa precisam do céu sem nuvens para que continuem vendo a cada fim de tarde o pôr do sol; e a insônia continue acontecendo para que aconteça a contagem das estrelas, a poesia da semente só terá rima em todos os versos, com o debulhar do milho.
Na debulha, mãos envelhecidas e calejadas transformam o semear, o nascer e o colher do milho em poesia.
Não.
Eu não sou poeta.
Eu não sei rimar.
Mas, a vida me ensinou a ver o pôr do sol, a contar estrelas e a debulhar o milho.