Eu e tu na praia
Lembras de onde vínhamos?
Eu também não lembro. Nos encontramos e caminhamos por aquela avenida longa, aparentemente terminando dentro do mar. Passamos por pessoas que iam na direção contrária à nossa. Eram tantas, essas pessoas, que até imaginamos que algum evento teria terminado – mas, nada termina. Apenas para. E parar não é terminar.
Nós terminamos?
Acho que não. Apenas paramos – faz tempo que paramos.
Mas, continuamos andando. Lá na frente, sem saber onde estávamos, dobramos na direção da brisa do mar. Aquele cheiro que parece ter sabor. Um sabor indecifrável de não sei quê. Era, por assim dizer, um cheiro saboroso – um cheiro provavelmente comível, se fosse servido com esse objetivo.
Demos nossas mãos. Tu ficastes com a minha e eu recebi a tua, carinhosamente. Mão macia, mas forte. Tão forte quanto o teu “não ou o teu sim”. Fortemente palpável e até irremovível – mas eu não queria isso.
Pisamos na areia da praia. Não falamos nada e também não dissemos nada com o nosso silêncio. Nos olhamos, lembro bem. Tiramos os calçados e caminhamos na direção do mar infinito e mil vezes maior que milhões de sonhos e desejos.
O nós, lembro bem – era apenas tu e eu. E havia momento que, sem que quiséssemos, éramos eu e tu. Éramos nós. Dois indivisivelmente sós.
Nos aproximamos daquele ir e vir das ondas. Tu ias na direção da onda, e ela, como se pretendesse se esconder e fugir de ti, ia embora, sumia. Tu voltavas para junto de mim, e ela (a onda) voltava na tua direção. Ficamos ali várias horas – eu e tu. Sim, a onda não fazia parte de nós. Era apenas uma moldura que nos colocava no quadro da vida.
Quando aconteceu a falta de sincronia, aí sim! A onda te encontrou e te derrubou no solo. Te molhou. Te desnudou e tua roupa íntima apareceu. Quase transparente – teu vestido branco comprido, molhado, permitiu o desenho da tua nudez, pois molhara também tua pequena peça íntima. Estavas nua. E a onda, vitoriosa e parecendo sorrir, foi embora mais uma vez.
E por minutos, naquela penumbra celestial, ficamos nós. Tu e eu.
* * *
VDD MENINOS! VC SABE PQ?
Ábaco
Vou te provocar. Quero te provocar. Não com o intuito de te diminuir, menosprezar, ridicularizar – mas, com o objetivo único de te fazer raciocinar e procurar que que, entre o modernismo vago dos dias atuais e o distante passado adjetivado de ultrapassado e retrógrado, existe um vácuo que cabe muitos de você e uma infinita porção de pessoas envelhecidas como eu.
Quando eu “digito” algo no meu PC, o faço com os oito dedos possíveis – os polegares são utilizados na barra de espaços. Foi assim que aprendi com as aulas vespertinas de DACTILOGRAFIA.
A, s, d, f, g ou ç, l, k, j, h.
Claro que isso não faz nenhuma diferença entre nós – pelo menos a minha geração aprendeu o que lhe foi ensinado na escola (e em casa – lugar onde se educa). E a sua, está aprendendo? Tomara esteja!
E qual é a provocação?
Com certeza você não teve no colégio aulas de Canto Orfeônico, Esperanto, Latim, Aritmética, Desenho, Religião, Caligrafia – e ao que parece também não está tendo de Português. Mas, não é essa a provocação.
Você sabe o que é um ÁBACO?
Sabe para que serve?