A estrada velha que leva ao antigo açude ainda está no mesmo lugar, mais abandonada do que nunca. Poucos passam por ali. Resta, no local da água, um vazio seco e nenhum outro atrativo que o torne objeto de cobiça de alguém. Só os saudosistas, como eu, sentem vontade de andar na estradinha. Há os que moram à margem do que um dia foi açude. São vizinhos da dor, adjacentes do sol. Muitos anteontens e pouquíssimos amanhãs povoam a alma daquela gente. Meus pés conhecem bem o trajeto: quantas vezes por ali passaram, descalços, rumo a um banho restaurador, um abraço na natureza, um encontro com a Paz e os passarinhos. Um paraíso de bichos pequenos, grilos e rãs, cantos e sons cheios de ternura. Aquele caminho continua vivo em mim e tem o efeito de ser como as lembranças do que não houve, os carinhos não recebidos ou os desejos não concretizados. Ventos e luzes de pirilampos penetram nas rachaduras do chão seco e fazem cócegas nas frestas da saudade, iluminando o algo distante em que tanto pisei. Um passado que se torna um presente ante o incerto futuro.
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