Em Escriba Errante, Fernanda Pompeu traz seu amor pelas palavras numa autobiografia libertadora
Escritora traz sua infância e juventude marcadas pela ditadura e pela sua paixão pela escrita
A paixão pela escrita é a personagem principal de Escriba Errante. É o que conecta Fernanda Pompeu com sua história e revela seu olhar sobre o mundo de uma forma às vezes dura, mas sempre poética, onde a palavra é seu sentimento mais forte.
Nos primeiros capítulos a autora traz a essência de uma menina aversa a vestidos, apaixonada pela letra H, que descobre a inveja entre as linhas azuis de um caderno, engole tinta Parker na tentativa de se transformar em escrita e que se vê mais atraída pela professora do que pela cartilha.
Em meio a tantas descobertas, ela sofre ao ver seu pai chorar pela primeira vez quando foi preso em uma manhã de 1964, em plena ditadura, e por ter que, junto com a mãe, jogar sua biblioteca no fundo do mar e ver os livros afundarem com seus sonhos. Para esconder a vocação comunista, ela e a família precisaram mudar de casa e de realidade, tiveram que se distanciar do mar e até trocaram manteiga por margarina, o que, para ela, sinalizava que as coisas realmente não estavam bem.
Os anos foram se passando sob o sufoco da ditadura, intercalando amizades com a descoberta da poesia e fantasias sensuais com a professora com os beijos do namorado, em um esforço dolorido para tentar ser normal e enfrentar o medo de assumir seu desejo por outras mulheres.
Foi uma época de triângulos amorosos, viagens lisérgicas, muito rock’n roll, mudança do curso de Jornalismo para a Escola de Cinema para trocar reportagens por roteiros, até encontrar uma mulher que desceu de uma moto, na madrugada, sob a garoa fina, para dividir a sua cama.
A anarquia e militância que deram a Fernanda a experiência de ser presa em Congresso Estudantil também lhe trouxeram o reconhecimento dos pais que ficaram orgulhosos com a filha insurgente que, logo depois, trocou a política por um quarto em uma república para poder viver seu grande amor.
Apaixonada por muitos autores socialista e utopistas, Fernanda passou a dividir seu tempo entre o trabalho na livraria do pai e a produção de matérias para jornais até ganhar o primeiro concurso literário e descobrir que realmente queria ser escritora.
Decisão tomada, viajou pelo mundo em busca de cenários, personagens e momentos para transformá-los nas páginas do seu primeiro romance escrito em uma Olivette Lettera 82. Em paralelo à construção do livro, a carreira de roteirista foi tomando fôlego até saturar a autora que assumiu a função de pena de aluguel para depois se reinventar como cronista e se render à modernidade da internet, tendo que escrever em uma nova mídia para novos leitores que finalmente realizaram seu maior sonho, o de ser lida.
Sobre a autora
Fernanda Pompeu é escritora e trabalha com textos de ficção e não ficção. Foi uma das roteiristas da série Mundo da Lua, na TV Cultura. Autora do livro de Microcontos 64, participou do livro Mulheres Guerreiras da Paz, publicado pela editora Contexto.
Por muitos anos exerceu a função de pena de aluguel para centenas de publicações com foco em gênero, raça e direitos humanos. Foi colunista do portal Yahoo! por quatro anos e criou o projeto Acelera Texto para encorajar escritores na escrita digital.
Para 2025, a autora está preparando a publicação de um romance acerca do processo de envelhecimento nos dias atuais.
Escriba Errante
Autora: Fernanda Pompeu
Editora Labrador
Preço médio: R$ 45,00
Instagram: @fernandapompeu.escriba