Com o aumento de água das chuvas em bueiros, caixas de energia e esgotos, os escorpiões que se alojam nesses locais são obrigados a procurar abrigo. E é nesse momento que pode ocorrer o encontro com o ser humano, entrando nas casas, sapatos e roupas — muitas vezes se escondendo em lugares que ninguém vê. Esse fenômeno eleva o risco de acidentes, especialmente para pessoas desatentas, que podem não perceber a presença desses aracnídeos. A picada do escorpião amarelo (Tityus serrulatus), a espécie mais comum e perigosa no Brasil, pode causar reações graves e até fatais.
O Distrito Federal registrou 2.157 notificações de acidentes protagonizados por escorpiões, de janeiro a setembro deste ano. No mesmo período do ano passado, foram 2.223 notificações. De acordo com a Secretaria de Saúde (SES-DF), 80% dos acidentes são classificados como leves, em que há apenas desconforto na área afetada e são tratados com medicação. Já sintomas como náuseas, vômitos e dores de cabeça aparecem em situações moderadas e graves, em que pode ser necessário o uso do soro antiescorpiônico.
Os hospitais locais de referência para tratamento de picadas, especialmente do escorpião amarelo, são o Hospital Materno Infantil de Brasília e dez hospitais regionais — Guará, Brazlândia, Paranoá, Ceilândia, Gama, Santa Maria, Planaltina, Sobradinho, Taguatinga e Asa Norte.
O biólogo e mestre em zoologia pela Universidade de Brasília (UnB) Feliphe de Freitas Novais explica que o soro antiescorpiônico é um tratamento vital para vítimas de picadas de escorpiões. "Sua principal função é neutralizar as toxinas liberadas pelo veneno do escorpião, o tempo é um fator determinante na gravidade da reação do organismo ao veneno. Sem o tratamento adequado, as toxinas podem causar desde dor intensa até reações mais severas, como dificuldades respiratórias e até mesmo a morte", esclarece.
Existem cerca de oito espécies de escorpiões no DF, como também o Tityus fasciolatus. Embora menos comum em áreas urbanas e mais restrito ao Cerrado, tem características que podem dificultar sua identificação. "O Tityus fasciolatus possui um padrão de coloração rajado e, apesar de ser menos perigoso, ainda pode causar acidentes. A confusão entre as duas espécies pode resultar em subnotificações de acidentes envolvendo-o, uma vez que muitos profissionais de saúde podem ter dificuldade em diferenciá-las", informa.
O especialista informa que os melhores métodos são manter sempre a casa organizada, sem acúmulo de lixo (que atrai o principal alimento dele, as baratas), assim como o quintal também organizado. Instalar soleiras nas portas e telas mosquiteiras nas janelas também podem ajudar, outra forma de prevenção é instalar telinhas nas pias e ralos de banheiros e outros ralos que possam existir na casa. Além de sempre verificar roupas e calçados antes de usá-los, caso você more em alguma zona com incidência dos escorpiões.
*Estagiária sob a supervisão de Patrick Selvatti